Faz hoje 198 anos que nasceu Charles Darwin, e já lá vão quase 148 anos desde que foi publicada «A Origem das Espécies». Em ciência isto é muito tempo. Em religião é como se fosse ontem. Talvez seja por isso que os criacionistas insistem em criticar o Darwinismo, quando a biologia já não usa esta teoria há quae um século.
A ciência é um esforço colectivo, que progride pela troca de ideias, crítica mútua, e revisão constante. Alguns indivíduos geniais dão um enorme impulso ao nosso conhecimento, e o conceito de descendência com modificações e selecção natural foi uma ideia genial. Mas nem os génios têm a palavra final ou acertam em tudo.
A teoria de Darwin não explicava muito, nem muito bem. Sem se conhecer o mecanismo de hereditariedade era uma teoria muito incompleta. Sem os modelos matemáticos da genética de populações não era quantificável, apenas dava uma ideia vaga. Não mencionava sequer o que se passa ao nível molecular, como as mutações neutras ou o papel dos mecanismos de replicação do ADN. Nem dizia nada acerca da regulação dos genes ou do desenvolvimento. Muitas das ideias de Darwin são hoje uma parte importante da teoria da evolução, mas são apenas uma parte, muito longe de ser a teoria toda. A vantagem do Darwinismo foi explicar como as espécies surgem da modificação gradual de antepassados mais simples, e substituir com sucesso o antigo modelo de sete dias de abracadabra. Foi o princípio da biologia moderna, e não o fim.
Ao contrário da ciência, a religião vive de dogmas, profetas, e da palavra dos deuses, que é sempre verdade. Perdão, que é sempre Verdade. Para os criacionistas, principalmente os evangélicos, não pode haver revisões, críticas, hipóteses alternativas, ou explicações melhores. Os criacionistas criticam tanto o Darwinismo porque vêm Darwin como um profeta, e a ciência como uma religião. Não percebem que teorias com 150 anos já só têm valor histórico, e que a ciência vive de criticas, correcções, e novas ideias.
Darwin era um homem meticuloso, rigoroso, e de uma enorme capacidade de autocrítica. Grande parte de «A Origem das Espécies» é dedicada aos problemas da sua teoria e aos detalhes que a suportam. Se ainda estivesse vivo ficaria certamente satisfeito com o que corrigimos e acrescentámos ao Darwinismo. Exactamente o oposto do profeta com placas de argila debaixo do braço a falar de bichos com sete cabeças, nove cornos, e cinco narizes.
Parabéns Charles. E perdoa-os, que eles não sabem o que fazem.
Por Ludwig Krippahl
http://ktreta.blogspot.com/
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