Passei hoje de raspão, enquanto esperava uns momentos no carro, os olhos pela secção de classificados do Diário de Notícias. Um dos maiores espaços era ocupado por anúncios de escolas e agrupamentos a publicitar horários vagos: 12, 14, 20, 25 horas. Prazo previsível do contrato: 30 dias, enquanto durar o impedimento do titular, alguns até final do ano lectivo.
Para além do anúncio público, a poupança nos serviços intermédios do ME que acabou com a forma como antes se procedia à substituição de professores, passou a implicar um processo burocrático-administrativo que a ninguém traz vantagens.
No antigamente, e olhem que eu passei uma década inteira nesse sistema, uma substituição resolvia-se em duas ou, vá lá, três semanas, com base nas listagens de candidatos existentes nos CAE. A Escola comunicava a necessidade de substituição e se os serviços do CAE não fossem preguiçosos em poucos dias era contactado o candidato no topo da lista que tinha um par de dias para aceitar ou não, após a notificação. Sei de casos em que o processo levou quase um mês, devido a sucessivas recusas por causa da escassa carga horária ou por ser uma substituição demasiado curta.
Agora, esse prazo de um mês é o mínimo que demora uma substituição a ocorrer, desde que se cumpram todas as regulamentações, desde o anúncio público, à entrega das candidaturas, respectiva análise, realização de eventuais entrevistas, seriação de candidatos, possíveis reclamações ou correcções (um dos anúncios era relativo á detecção de erros numa seriação) e escolha final.
Um labirinto burocrático multiplicado por centenas ou milhares de casos.
“Antigamente” duas ou três pessoas centralizavam regionalmente o processo e os candidatos apresentavam uma vez a papelada. Agora têm de andar, à moda do final do século XIX, de pastinha na mão de escola em escola, a apresentar os seus préstimos. E vá de comprar todos os dias os jornalinhos, para que não escape nenhuma hipótese de emprego.
A quem favorece este sistema, que alegadamente favorece a “autonomia” dos estabelecimentos de ensino?
Aos alunos certamente que não, pois as substituições serão por regra mais morosas.
à generalidade dos candidatos também não, porque agora não podem ter um momento de descanso, sempre à cata de uma migalha.
Aos estabelecimentos de ensino que cumprem as normas também não, pois o seu trabalho passou do envio de um fax para a necessidade de pagar anúncios na imprensa, recolher candidaturas, analisá-las e tudo o mais, antes de escolher um docente para meia dúzia de semanas de aulas.
Mas este sistema certamente que favorece certos “esquemas” em que há quem saiba do concurso com a devida antecedência sem ser necessário andar a rondar os jornais. E quem comunique à pessoa com o “perfil certo” a oportunidade em aberto. Deve ser a isso que se chama a “autonomia” e deve ser essa uma das maiores vantagens da “liberdade de escolha”.
Sou desconfiado?
Sou, pois claro que sou.
Não nasci anteontem.
http://educar.wordpress.com/
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