sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Classificados

Passei hoje de raspão, enquanto esperava uns momentos no carro, os olhos pela secção de classificados do Diário de Notícias. Um dos maiores espaços era ocupado por anúncios de escolas e agrupamentos a publicitar horários vagos: 12, 14, 20, 25 horas. Prazo previsível do contrato: 30 dias, enquanto durar o impedimento do titular, alguns até final do ano lectivo.
Para além do anúncio público, a poupança nos serviços intermédios do ME que acabou com a forma como antes se procedia à substituição de professores, passou a implicar um processo burocrático-administrativo que a ninguém traz vantagens.
No antigamente, e olhem que eu passei uma década inteira nesse sistema, uma substituição resolvia-se em duas ou, vá lá, três semanas, com base nas listagens de candidatos existentes nos CAE. A Escola comunicava a necessidade de substituição e se os serviços do CAE não fossem preguiçosos em poucos dias era contactado o candidato no topo da lista que tinha um par de dias para aceitar ou não, após a notificação. Sei de casos em que o processo levou quase um mês, devido a sucessivas recusas por causa da escassa carga horária ou por ser uma substituição demasiado curta.
Agora, esse prazo de um mês é o mínimo que demora uma substituição a ocorrer, desde que se cumpram todas as regulamentações, desde o anúncio público, à entrega das candidaturas, respectiva análise, realização de eventuais entrevistas, seriação de candidatos, possíveis reclamações ou correcções (um dos anúncios era relativo á detecção de erros numa seriação) e escolha final.
Um labirinto burocrático multiplicado por centenas ou milhares de casos.
“Antigamente” duas ou três pessoas centralizavam regionalmente o processo e os candidatos apresentavam uma vez a papelada. Agora têm de andar, à moda do final do século XIX, de pastinha na mão de escola em escola, a apresentar os seus préstimos. E vá de comprar todos os dias os jornalinhos, para que não escape nenhuma hipótese de emprego.
A quem favorece este sistema, que alegadamente favorece a “autonomia” dos estabelecimentos de ensino?
Aos alunos certamente que não, pois as substituições serão por regra mais morosas.
à generalidade dos candidatos também não, porque agora não podem ter um momento de descanso, sempre à cata de uma migalha.
Aos estabelecimentos de ensino que cumprem as normas também não, pois o seu trabalho passou do envio de um fax para a necessidade de pagar anúncios na imprensa, recolher candidaturas, analisá-las e tudo o mais, antes de escolher um docente para meia dúzia de semanas de aulas.
Mas este sistema certamente que favorece certos “esquemas” em que há quem saiba do concurso com a devida antecedência sem ser necessário andar a rondar os jornais. E quem comunique à pessoa com o “perfil certo” a oportunidade em aberto. Deve ser a isso que se chama a “autonomia” e deve ser essa uma das maiores vantagens da “liberdade de escolha”.
Sou desconfiado?
Sou, pois claro que sou.
Não nasci anteontem.
http://educar.wordpress.com/

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