sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Desperdício, fraude e abuso: mais um dia no Pentágono

Quando era adolescente, um aprendiz de sindicalista, dois dos meus livros favoritos foram Labor's Untold Story e History of the Great American Fortunes . Recomendo-os a quaisquer leitores desejosos de rever a nossa própria história como povo trabalhador aqui nos Estados Unidos. Ambos são monumentos à educação da classe operária. Naquele tempo, antigos sindicalistas emprestaram-me exemplares muito gastos pelo uso, considerando que um jovem militante como eu podia beneficiar do seu conteúdo. Estou certo de que beneficiei.

Foi nas páginas destes dois volume que primeiro descobri o que – ao longo da história americana – incontáveis homens de negócio sem escrúpulos fizeram fortunas instantâneas e muitas vezes vultosas através da fraude e ludibrio do nosso governo. Muito frequentemente, isto significava as nossas forças armadas. Remontando aos 1800, foram feitos milhões com a venda de comida não comestível para o Exército, entregando navios à Marinha que não estavam aptos a navegar, e vendendo armas e munições de alto preço que eram de qualidade tão fraca a ponto de ser inútil, e mesmo perigosa para os soldados em campo. Toda espécie de fraude imaginável foi perpetrada por estes Barões Ladrões incipientes, todos os quais aproveitavam-se sistematicamente de quaisquer conflitos em andamento ou a aproximar-se como meios para ficarem ricos às custas dos contribuintes.

Os últimos 100 assistiram ao crescimento exponencial deste fenómeno. Os preços exagerados e o roubo muitas vezes é feito de modo mais profissional do que no passado, mas o preço pago pelo nosso governo é maior do que nunca. Mas, dito isto, nada poderia nos ter preparado para o filão cleptomaníaco que se seguiu ao 11 de Setembro e a invasão do Iraque. Pela dimensão absoluta e abrangência da fraude e do saqueio, nenhum outro momento na história da humanidade pode ser comparado ao que hoje a acontecer. Os maquinadores de piratas dos anos passado eram operadores de pequena escala pelos padrões de hoje. Todo restaurante caro em torno do Pentágono está pejado diariamente de operadores a pagarem os Barões Ladrões de hoje, todos a procurarem conseguir contratos lucrativos e sem fazer coisa alguma junto aos seus convidados das equipes de compradores das forças armadas.

Trabalhar aqui em Washington, D.C. proporcionou-me uma poltrona avançada para assistir ao crime do roubo do Pentágono. Além do pessoal de serviço uniformizado das nossas forças armadas – agora bastante visível devido ao grande número que vai e vem aqui na área do distrito – podemos verificar o crescimento constante de toda espécie concebível de empreiteiros militares, fornecedores de serviços, representantes, vendedores de hardware e software, distribuidores de equipamento, consultores, etc. Nunca na história do mundo uma agência militar – o nosso Pentágono – teve tanto dinheiro para gastar num espaço de tempo tão curto. É o que parece este momento de "dinheiro para nada", tenho a certeza.

Minhas observações e repugnância em relação a isto multiplicaram-se quando em Novembro último abri as páginas da publicação da indústria da defesa Defense News. O seu número de 6 de Novembro continha um editorial intitulado "Financiamento da defesa americano – Orçamento? Que orçamento?". Esta jóia vergastava os republicanos pelos seus gastos impulsivos na defesa, e por acicatarem as forças armadas a irem ao Congresso a fim de proporem grandes aumentos em financiamentos requeridos que não fossem senão "WAGs". É assim que os militares denominam os "Palpites selvagens" (Wild Ass Guesses"). Os editores desta revista de negócios militares pareciam entender que, se o saque, o roubo e a simples negligência nos gastos do Pentágono se tornassem mais descontrolados, o comboio das benesses em breve chegaria a um fim drástico. Os elementos sóbrios do negócio ficam nervosos quando as suas boas coisas ficam um tanto demasiado boas por demasiado tempo e começam a publicar manchetes e a chamar a atenção dos políticos.

Contudo, aquele editorial no Defense News não era senão a ponta de um iceberg. Quando o Inspector Geral (IG) do Pentágono Thomas Gimble testemunhou perante o Subcomité de Apoio à Prontidão e Gestão do Comité das Forças Armadas do Senado, em 17 de Janeiro, a tampa explodiu. Gimble está a "actuar" como IG porque o seu antecessor libertou-se a fim de ir trabalhar para o Prince Group, o qual tem como uma das suas subsidiárias a Blackwater USA, uma empreiteira de segurança privada que faz negócios com o Pentágono no Iraque e alhures. A actuar como IG, Gimble despejou um espantoso relatório sobre aquele painel do Senado. As audiências habituais Senado são muito aborrecedoras, mas posso assegurar que durante esta ninguém dormiu. E recordo que o IG é a pessoa dentro da casa que é suposta salvaguardar – ou pelo menos tentar – a integridade e honestidade da agência, sua equipa e seus processos.

Aqui estão algumas das pepitas reveladas por Gimble na audição, a actuar como IG, sem qualquer ordenamento: o Pentágono tem uma chuva de tanto dinheiro que não pode gastá-lo bastante rápido. De facto, o Departamento da Defesa montou um esquema em que outras agências federais agora estão a gastar vastas somas de dinheiro apropriadas ao Pentágono. De facto, milhares de milhões de dólares em dezenas de milhares de contratos. As leis que regem os processos de compra são habitualmente ignoradas. A competição, os limites de preços e a supervisão foram "abandonados". A auditoria de contratos e empreiteiros e tanto não existente como demasiado lenta e superficial para ser eficaz. O Pentágono tem tanto dinheiro deixado por gastar no fim de ano que cozinhou ainda um outro esquema para esconder milhares de milhões de dólares em outras agências federais. Considero como meu caso favorito o de um recruta contratado da Marinha a quem foi permitido como principiante autorizar contratos com um valor combinado máximo de US$ 5 milhões. Ele gastou US$ 135 milhões. Viram o quadro?

Nossos amigos da Defense News publicaram uma reportagem acerca desta audição e do testemunho explosivo do IG Gimble: "Pentagon IG: Procurement Laws Are Routinely Broken: Blames DoD for Hiring Other Agencies To Help Spend Funds" (22/Janeiro/2006). Ver no sítio web do Defense News. Se quiser examinar o relatório completo do IG Gimble, pode apreciá-lo online em www.dodig.osd.mil/Audit/reports/FY07/07-044.pdf .

Tais peripécias fora de controle estão a transpirar do Pentágono, bem ali na Virgínia do Norte, e à vista do Capitólio americano. Penso que estamos todos plenamente conscientes da situação igualmente má – ou mesmo pior – respeitante ao desperdício, fraude e roubo que tem sido desenfreada desde que a primeira bota pisou o solo do Iraque quatro anos atrás. O custo "legítimo" de manter a mais maciça máquina militar do mundo é estarrecedor. Os custos exorbitantes de uma aventura ilegal como o Iraque aumenta esta despesa exponencialmente. Finalmente, quando companhias orientadas para o lucro ordenham o sistema corrupto e falido de vendas e contratação com extensão que é evidente, então o orçamento militar assume um crescimento maligno e parasítico no corpo nacional. Nenhum país na história do mundo alguma vez aguentou tais pressões por muito tempo.

Esta fraude e roubo tão colossal deveria aumentar nossa resolução de por fim à guerra do Iraque tão rapidamente quanto possível. Deveria servir como aviso à nossa nova maioria do Partido Democrata no Congresso de que deve actuar quanto a isto. Cortes vastos no orçamento do Pentágono estão na ordem do dia, de facto são exigidos. Uma auditoria completa das despesas, desde o topo até à base, bem como daqueles que fazem as despesas e daqueles que embolsam os cheques a seguir. Terceiro, é óbvio que um tribunal federal especial precisaria ser improvisado a fim de processar provavelmente várias dezenas de milhares de criminosos – tanto do Pentágono como do sector privado – que engendraram este desrespeito maciço pela lei e o consequente roubo dos fundos governamentais dos EUA. Isto deve seguir até o topo no organograma de comando, ao demitido secretário da Defesa Donald Rumsfeld, ao vice-presidente Dick Cheney e ao presidente George W. Bush.

Contudo, não espero que nada disto aconteça. Mas, para acrescentar algo prático ao meu conselho, tente descarregar este artigo para principiantes. Açoite-o então da próxima vez que conversar com um político Republicano ou Democrata que comece com o "Não podemos permitir-nos o sistema nacional de cuidados de saúde" ou "Todos têm de sacrificar-se um pouco". Balelas. Temos todo o dinheiro para consertar os nossos problemas. O que nos falta são prioridades civilizadas e sãs, a vontade política de implementá-las e a motivação para processar aqueles rufiões de colarinho branco que estão a acartar para longe o dinheiro público com camiões de carga. Sentir-se-á melhor se fizer isto, mesmo que sejamos conduzidos a um asilo por causa do Pentágono.
Chris Townsend

http://resistir.info/

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