Dezenas de milhares de pessoas protestaram em Washington, a 27 de Janeiro, contra a política de Bush no Iraque, e exigiram o regresso imediato das tropas.
A primeira manifestação nacional contra a guerra no Iraque, realizada em Washington desde as eleições de Novembro de 2006, deu no passado sábado um novo impulso ao crescente movimento para pôr fim à ocupação do Iraque pelos Estados Unidos. O protesto foi um dos maiores desde as demonstrações contra a guerra que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas de Washington e Nova Iorque, em Janeiro e Fevereiro de 2003, respectivamente, na tentativa de impedir a invasão.
Talvez o mais importante para o futuro próximo da luta tenha sido a reacção da multidão às palavras de ordem e aos slogans. Os ataques a Bush, Cheney ou aos seus amigos e os apelos ao «impeach Bush» (destituição do presidente) foram ruidosamente aplaudidos. A multidão repudiou o plano dos democratas para uma “resolução simbólica” do Congresso exprimindo o desacordo com a guerra. O que os manifestantes exigiram foi que o Congresso inviabilize todos os fundos para a guerra e para a ocupação, sem ses nem mas, pelo que vão centrar a sua acção nos próximos meses na luta junto do Congresso para acabar com esse financiamento.
A maioria dos manifestantes veio de centenas de comunidades em resposta ao apelo de organizações locais e estaduais contra a guerra, que organizaram o protesto no âmbito das coligações nacionais pela paz. Um em cada três manifestantes tinha um cartaz ou uma bandeira, alguns feitos à mão, outros fornecidos pela coligação União pela Paz e Justiça (UFPJ, na sigla inglesa), que encabeçou o protesto; outros ostentavam distintivos fornecidos durante o desfile por outras coligações, grupos nacionais, sindicatos, grupos de estudantes universitários e organizações comunitárias. Alguns dos manifestantes alertavam para o perigo de um novo ataque dos EUA contra o Irão.
Entre os sindicatos que participaram na iniciativa salienta-se o Hospital Workers District 1199 e o Professional Staff Congress de Nova Iorque, o Communication Workers (CWA), a United Federation of Teachers, District Council 37, e a United Auto Workers e a Teamsters, de Detroit.
As palavras de ordem mostraram que todos estão de acordo com a retirada dos EUA e com o regresso a casa das tropas. Soldados no activo, novos veteranos do Iraque, familiares de soldados e veteranos de anteriores guerras dos EUA ocuparam o lugar de honra à cabeça da manifestação. As suas exigências pelo fim imediato da ocupação eram ainda mais fortes do que as dos restantes. A maioria dos veteranos da Guerra do Iraque e os GIs no activo deixaram claro que este crescente sector do movimento anti-guerra pode desempenhar um importante papel no fim da ocupação. Apesar da sua raiva contra Bush e da persistente história de horror do Iraque, muitos dos manifestantes disseram ao Avante! que estavam espantados com a grande multidão que saiu à rua a apoiar a continuação da luta contra a guerra.
A conhecida actriz Jane Fonda, que foi uma activista contra a guerra no Vietname, disse ter-se juntado ao movimento porque «o silêncio já não é uma opção». Também os actores Tim Robbins e Susan Sarandon discursaram contra a guerra. Só um pequeno número de representantes do Partido Democrático no Congresso usou da palavra ou deu a cara, a maioria pedindo que o protesto do seu partido vá mais longe do que o “simbólico”. John Conyers (Michigan) esteve presente, tal como Gerald Nadler (Nova Iorque), que defendeu o corte de fundos excepto para trazer as tropas para casa. Dennis Kucinich (Ohio) pronunciou-se contra a atribuição de quaisquer verbas para a guerra, enquanto Maxine Waters (D-Califórnia) atacou directamente Dick Cheney e Bush por mentirem para justificar a guerra.
VETERANOS DO IRAQUE, FAMILIARES E GIS NO ACTIVO
Familiares de GIs no Iraque e os que perderam ali os seus filhos, veteranos da Guerra da Iraque, amigos de resistentes e GIs ainda no activo subiram à tribuna, trazendo ao movimento um novo alento da resistência.
Bob Watada, pai do resistente Lt Ehren Watada (www.thankyoult.org), falou em defesa do filho, que enfrenta o tribunal militar a 5 de Fevereiro em Ft. Lewis, Washington, por se ter recusado a embarcar para o Iraque. Watada, um oficial patriota, estudou a situação no Iraque de forma a poder dirigir convenientemente as suas tropas, e ao informar-se descobriu que a administração Bush promoveu a guerra com base num monte de mentiras.
Uma boa surpresa para o movimento chegou por intermédio do oficial da Marinha Jonathan Hutto e do sargento Liam Madden, organizadores no activo do Appeal for Redress, um documento assinado por cerca de 1250 GIs no activo, Guarda Nacional e reservistas até 29 de Janeiro (www.appealforredress.org).
Hutto dirigiu-se à multidão entoando «No justice! No war! More death, no peace! More imperialism, no peace!» (Sem justica! Sem guerra! Mais morte, sem paz! Mais imperialismo, sem paz!), e disse: «Viemos hoje aqui em defesa de 1223 militares dos Estados Unidos no activo, reservistas, membros da Guarda Nacional que estão a usar o seu direito constitucional de falar contra esta guerra, uma guerra imperialista, uma guerra pelo lucro, não pelo povo, uma guerra pela morte, não pelo povo, uma guerra contra a classe trabalhadora, não pela justiça».
No seguimento desta manifestação, a Coligação Tropas Fora Agora (TONC, na sigla inglesa) apela à coordenação nacional para acções a nível local a 17 de Fevereiro, instando os senadores e representantes a rejeitar o financiamento da guerra, e a aplicar esses meios em serviços sociais. Para 17 de Março – data do quarto aniversário da invasão –, a TONC e a Coligação ANSWER estão a preparar uma marcha junto ao Pentágono.
John Catalinotto
http://www.infoalternativa.org/usa/usa146.htm
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