segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Miscelânea Criacionista: o criacionismo é ciência?

Uma pergunta difícil, porque há muitos criacionismos, e porque os criacionistas se contradizem a este respeito. Defendem que a ciência está limitada pelo naturalismo e não pode explicar os milagres da mitologia criacionista, mas querem ensinar o criacionismo como explicação científica e alternativa à biologia moderna. Também alegam que há investigação científica criacionista, mas recorrem ao milagre sempre que as contradições entre o criacionismo e a realidade são demasiado óbvias.

Penso que a melhor forma de compreender isto é pela história do criacionismo. A concepção inteligente sempre foi uma hipótese científica. Mesmo hoje é um problema comum determinar se um pedaço de rocha se formou por processos naturais ou se foi afiado com inteligência e propósito. A arqueologia e a paleontologia estudam muitas coisas criadas inteligentemente.

O mesmo se aplica à hipótese criacionista para a origem das espécies. A hipótese tem que identificar o propósito para um milhão de espécies de insectos, para os inúmeros parasitas ou para a maioria das criaturas sem relação óbvia com algum plano de salvamento ou redenção da espécie humana. E se foram criados com inteligência, é preciso explicar porque os ratos que vinham nos navios dos exploradores tantas vezes dizimavam as espécies indígenas de ilhas recém descobertas. Era estranho que um ser inteligente tivesse criado aves incapazes de reagir aos ratos que comiam os seus ovos ou pintos, ou escaravelhos com asas perfeitamente formadas debaixo de uma carapaça que não conseguem abrir, ou peixes cegos com olhos que não servem para nada, entre muitos outros exemplos.

Foi por ser uma hipótese científica que o criacionismo bíblico foi rejeitado. Nem nisto se distingue, pois aconteceu o mesmo com a maioria das hipóteses científicas. O que distingue a versão moderna do criacionismo é querer a autoridade da ciência sem se admitir vulnerável a factos contraditórios, e isto é impossível. A ciência escolhe os modelos de forma a corresponderem ao que se observa, e quando a correspondência falha o modelo é substituído. As falhas dos modelos científicos são erros a corrigir, e é o sucesso contínuo nesta correcção que justifica a nossa confiança na ciência.

As falhas dos modelos criacionistas não são erros. São milagres. É por isso que a versão moderna do criacionismo nem é científica nem serve para nada. Se ligam o interruptor e a lâmpada não acende o melhor é pôr uma lâmpada nova. Ajoelhar-se e louvar o milagre da lâmpada fundida é inútil e irracional
Ludwig Krippahl
http://ktreta.blogspot.com/

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