segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Prémio Nacional de Professores

1 – Com o concurso do «melhor professor do ano» não se procura o reconhecimento profissional, mas a domesticação dos professores. Os professores, como outros portugueses, podem obter o reconhecimento público, e do Estado, em condecorações no 10 de Junho. Mas isso não é um prémio — que tem como contrário o castigo — é um reconhecimento público. É outra dignidade.
2 – O que a ministra procura é um concurso que ajude a impor o seu modelo de professor. Um concurso que faz parte do espectáculo, onde actuam professores devidamente amestrados. Cada circo tem os seus animais. Prémios e castigos são os recursos usados para os domar. Se usamos estas duas formas para conseguir determinados resultados, dizemos que está a haver adestramento e não educação. Na educação não há castigo nem prémio, há reconhecimento. Este faz parte da esfera do racional, do relacionamento entre iguais em dignidade e direitos, entre educador e educando. Não se confunda reconhecimento entre iguais com prémio. Neste, é patente a desigualdade entre quem dá e quem recebe. Quando lidamos com irracionais domesticamos, adestramos ou domamos. Já o ser humano é educado na base do raciocínio. Ele entende o processo educacional a que se submete. Não é forçado — com castigos e prémios — ou enganado, para dele se obter o comportamento desejado pelo domador. O ser humano exige reconhecimento de direitos, autonomia e o direito de ser sujeito e condutor do seu processo de trabalho e de vida. Não é esta a lógica dos concursos de «o-melhor-não-sei-o-quê». Estes, fazem parte do mundo da manipulação e da humilhação das pessoas. O objectivo dos domadores é que os animais se submetam aos seus preconceitos e fantasias.
3 – Lamento e estranho que faça parte do júri do concurso o professor António Nóvoa. Os outros sete membros do júri fazem parte da fauna que povoa ou é satélite da cúpula do ministério onde se tece a lenga-lenga — as coisas giras — sobre o modo como os professores devem trabalhar.
4 - Se alguém quiser um excelente exemplo da maldita burocracia nacional, use o regulamento deste concurso. A um candidato a astronauta, com direito a passarinhar em Marte, é pedida uma candidatura muito menos burocrática.
5 – Na Inglaterra, onde a ministra se inspira, há «Óscares»[o Platão de ouro], o que não há é professores. O governo vê-se obrigado a importar imigrantes dos países mais pobres.
6 – Na Califórnia, umas senhoras da sociedade, promovem o concurso dos melhores professores e dignam-se descer às escolas, sujando as mãos, a cumprimentar os pobres contemplados. Lá, a média de permanência dos professores na profissão é de 3 anos!
7 – No dia 14 de Outubro — no fim de semana após a marcha nacional dos professores — o ME fez publicar nos jornais PÚBLICO e JN, um anúncio de propaganda, publicitando a sua proposta de ECD. Os anúncios custaram no PÚBLICO 9.680 euros e no JN 11.372 somando assim 21.052 euros. Com o IVA lá se gastou o dinheiro do novel prémio anual em dois discretos momentos de propaganda.
8 – Claro que se aguarda o anúncio dos mecenas, que hão-de patrocinar o espectáculo, e os comentadores afobados que o enaltecerão.
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=5190

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