Com o desenvolvimento da crise económico-social, desde fins dos anos noventa que a destruição capitalista das bases naturais tem passado progressivamente para segundo plano. Agora, de repente, as mudanças do clima há muito conhecidas fazem de novo manchete. Paralelamente aos limites internos da valorização do capital (desemprego massivo e sub-emprego globais, economia de bolhas financeiras e instáveis circuitos de déficit) começam a erguer-se os limites externos da natureza. Por um lado, anuncia-se para as próximas décadas o esgotamento das reservas de energias fósseis de acesso fácil. Com esse esgotamento é previsível uma subida de longa duração dos preços da energia, até aos limites do suportável e mesmo para além deles. Por outro lado, com a emissão de gases com efeito de estufa, foi programado um aquecimento global, com catástrofes climáticas em parte já manifestas (secas aqui, inundações acolá, furacões, etc). Segundo um estudo de Nicholas Stern, ex-economista do Banco Mundial, em consequência disso a economia mundial cairá cerca de 20%.
Efectivamente, poderiam coincidir ambos os momentos de sentido contrário dos limites naturais: o choque económico da explosão do preço da energia poderia reduzir drasticamente as emissões, à custa de uma quebra do crescimento, convergindo porém simultaneamente com os efeitos das catástrofes climáticas, que não vão parar a curto prazo. Já a relativa diminuição das emissões globais de 1990 a 2000, que levou a um falso fim do alerta, não se deveu ao protocolo do clima e às medidas de regulação, mas ao colapso económico do antigo bloco do Leste. Foi apenas porque enormes estruturas industriais foram desvalorizadas pelo mercado mundial e ficaram paralisadas que, segundo o secretariado da Convenção Internacional do Clima, as emissões baixaram 40% neste espaço, com repercussão nos valores globais. Desde então as emissões de CO2 a nível mundial subiram de novo dramaticamente; cerca de 25 % só no sector dos transportes, por causa do processo da globalização.
Os responsáveis não são apenas as zonas económicas de exportação chinesas e os Estados Unidos. Também a União Europeia ficará muito aquém dos objectivos do Protocolo de Kyoto. Apesar disso, a Comissão Europeia desagravou os limites das emissões de gases dos automóveis, em consequência do lobby automóvel alemão. Pois os conglomerados locais fabricam sobretudo modelos ostentosos, com elevadas emissões. Embora fosse necessária uma redução para 120 gramas de CO2 por kilómetro, a auto-vinculação da União Europeia ficou-se pelos 140 gramas. Contudo o Classe S da Mercedes emite mais de 300 gramas; sendo isso permitido, graças à gradação em função da cilindrada. Os alemães gostam de considerar-se românticos defensores das florestas e "verdes", mas na realidade triunfa a ideologia do cavalo-potência. Só a protecção do clima é que é travada.
O capitalismo é uma cultura de combustão, assente num emprego de energia em crescimento contínuo que, de certa maneira, se queima a si mesmo e consigo o futuro da humanidade. A retórica oca do posto de trabalho e a igualmente oca retórica do clima apoiam-se mutuamente, no seu sentido contrário. A crise económico-social e a crise ecológica começam a cruzar-se e a potenciar-se uma à outra. O modo de produção e de vida dominante deixa apenas a alternativa de a catástrofe climática ser abrandada pelo colapso económico ou, pelo contrário, que a catástrofe climática desenfreada leve à violenta queda da economia. Depois de nós, o dilúvio! Esta secreta divisa dos gestores da combustão deve ser entendida à letra.
Robert Kurz
http://obeco.planetaclix.pt/
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