segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Soldados assustados aterrorizam pessoas

Yassir, de 10 anos, apontou uma arma de plástico a uma patrulha blindada estadunidense em Faluja, e gritou “Bang! Bang!”.

Yassir não sabia o que estava por acontecer. «Gritei para que todos corressem, porque os americanos estavam a voltar», disse à IPS Ahmed, de 12 anos, que estava com Yassir.

Os soldados seguiram Yassir até sua casa e destruíram quase tudo o que havia nela. «Fizeram isso depois de baterem com força no Yassir e no seu tio, e disseram as palavras mais feias», contou o jovem.

Não são só as crianças, ou as pessoas de Faluja que estão assustadas.

«Esses soldados estão aterrorizados aqui», disse à IPS o Dr. Salim al-Dyni, psicoterapeuta de visita a Faluja. O Dr. Dyni declarou ter visto relatórios profissionais de militares psicologicamente perturbados «enquanto serviam nas áreas mais quentes, e Faluja é a mais quente e aterradora para eles».

O Dr. Dyni afirmou que os soldados perturbados estavam por trás das piores atrocidades. «A maioria dos assassinatos cometidos pelos soldados estadunidenses resultou dos medos dos soldados».

A polícia iraquiana local calcula que a cada dia são cometidos pelo menos cinco ataques contra tropas dos EUA em Faluja, e aproximadamente a mesma quantidade contra forças de segurança do governo iraquiano. A cidade, situada na indomável província de al Anabar a oeste de Bagdade, tem estado sob alguma forma de cerco desde Abril de 2004.

Isso representou um castigo para o povo. «Oficiais americanos perguntaram me centenas de vezes como os combatentes conseguem as armas», disse à IPS um morador de 35 anos que foi detido juntamente com dezenas de outros durante uma rusga militar às suas casas no bairro Muallimin no mês passado.

«Eles [os soldados norte americanos] chamaram me os piores nomes que consegui entender, e muitos que não consegui. Ouvi presos mais jovens a gritarem sob tortura e repetindo “não sei, não sei”, aparentemente respondendo à mesma pergunta que me haviam feito».

Os soldados estadunidenses têm reagido de forma selvagem aos ataques cometidos contra eles.

Recentemente, várias áreas de Faluja ficaram sem electricidade durante duas semanas, depois de militares estadunidenses terem atacado a central eléctrica, na sequência de um ataque cometido por um franco atirador.

Thubbat, Muhandiseen, Muallimeen, Jughaifi e a maioria das partes ocidentais da cidade foram afectadas. «Eles estão a castigar civis por não conseguirem proteger se a si mesmos», disse à IPS um morador do bairro Thubbat. «Desafio os a capturar um só dos franco-atiradores que matam os seus soldados».

Muitos dos assassinados na violência sem fim são civis. A maior queixa local é que as forças estadunidenses atacam civis aleatoriamente para vingarem colegas mortos em ataques cometidos pela resistência.

Mais de 5.000 civis mortos por soldados estadunidenses foram enterrados nos cemitérios de Faluja e em fossas comuns na periferia da cidade, segundo o Centro de Estudos para os Direitos Humanos e a Democracia, uma organização não governamental com sede em Faluja.

«Pelo menos metade dos mortos são mulheres, crianças e idosos», assegurou à IPS o co-diretor da organização, Mohamad Tareq al-Deraji.

Soldados dos Estados Unidos submetidos à máxima pressão parecem estar a punir civis ao mesmo tempo que sofrem alguma forma de stress pós-traumático. A IPS informou no dia 3 de Janeiro que novas orientações estabelecidas no mês passado pelo Pentágono permitem aos comandantes deslocar soldados que sofrem de tais distúrbios.

De acordo com o jornal do exército estadunidense Stars and Stripes, os membros do serviço com «uma desordem psiquiátrica em remissão, ou cujos sintomas residuais não impeçam o cumprimento do dever» podem voltar ao activo. Enumera o stress pós-traumático como um problema “tratável”.

Steve Robinson, director de Assuntos de Veteranos da Veterans for America, disse ao jornalista da IPS Aaron Glantz que «como homem comum e ex-soldado, considero que isso é ridículo».

«Se tenho um soldado que toma Ambien para dormir e Seroquel e Qanapin e todo tipo de remédios psicotrópicos, não quero que tenha uma arma na mão e faça parte da minha equipa, porque é um risco para si mesmo e para os demais», afirmou. «Mas, aparentemente, o exército tem seu próprio ponto de vista sobre o quanto pode funcionar bem um soldado nessas condições, e está a apostar que possam ter êxito».

Dahr Jamail; Ali al Fadhily
Dahr Jamail's MidEast Dispatches
http://www.infoalternativa.org/autores/jamail/jamail021.htm

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