Já sei que para certas correntes de opinião, até o fenómeno das mudanças climáticas é causado pela incompetência e falta de mérito dos docentes portugueses, a que alguns colegas normalmente designam como os “outros“, aquela turba de incompetentes, que deveria andar a lavar o chão dos sanitários públicos. Não é para ressabiar aqui nada, mas apenas reparo como essa forma de tratamento entre teóricos “pares” é completamente contraditória com as teorias pedagógicas perfilhadas em espalhadas aos quatro ventos em tom e pose profética. É que me irritam certas sobrancerias. Mas adiante que hoje é Domingo de Entrudo.
Só que por vezes a caricatura parece verdadeira: se o clima aquece deve ser porque os docentes portuguerses e do ensino não superior (é importante resalvar tudo isto para manter tudo claro) andam demasiado encrespados e agitados; se o clima arrefece, é porque a nossa massa cinzenta deve ser um autêntico bloco de gelo; se faz vento é porque espirramos; se faz chuva é poque não tapámos a boca com o lenço; se faz granizo, enfim…
Só que desta vez, não sei bem como dar a volta a este tipo de indicador da OCDE (o relatório completo, encontra-se neste espaço, pelo menos em língua castelhana), que indica que numa amostra de 24 países, Portugal encontra-se m 19º lugar em termos de bem-estar material infantil, sendo que esse indicador resulta da agregação de três factores: pobreza relativa de rendimentos (quantidade de crianças que vivem em zonas com rendimentos abaixo de 50% das médias nacionais), nível de desemprego familiar (peso relativo das crianças de famílais com os adultos desempregados) e pobreza declarada (nível de crianças que assumem a existência de poucos rendimentos na família, fracos recursos educativos e nº reduzido de livros no agregado).
Atendendo a que os faróis escandinavos que agora iluminam os nossos governantes nestas matérias da educação, formação e qualificação estão nos 4 primeiros lugares, eu ousaria - será que de forma perfeitamente irresponsável? - estabelecer uma qualquer variedade de relação ou conexão entre o bem-estar material das crianças e alguns indicadores educativos que nos atormental, como é o caso do abandono escolar. Eu sei que perto de nós também estão os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, que nos habituámos a considerar mais desenvolvidos do que nós, mas cuja sociedade sofreu fortes mutações nos últimos 25 anos que acentuaram imenso os fossos de carácter socio-económico, com um enorme aumento da pobreza desde os anos 80 quando os respectivos sistemas de protecção social foram revirados pela dupla Reagan-Thatcher, assim como também a Educação por ´lá deixou de apresentar as performances de outros tempos.
Mas se nos lembrarmos de relacionar estes indicadores todos (educação, vulnerabilidade económica e disparidade crescente de rendimentos) talvez cheguemos a um qualquer tipo de conclusão - preliminar, claro, o mais provisória que é possível, mera suposição se assim o quiserem os mais críticos - que não vai dar necessariamente à culpa dos docentes.
Ou será que estou a ver mesmo mal a coisa?
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