Chumbos e abandono escolar no 12.º ano aumentaram mais de 20% numa década (Diário de Notícias)
Os chumbos e os casos de abandono escolar no 12.º ano aumentaram mais de 20% numa década. Entre os anos lectivos de 1994/95 e 2004/05, a taxa de retenção e desistência no final do secundário passou de 29,6% para 50,8%. No conjunto dos três anos - 10.º ao 12.º - a progressão do insucesso superou os 11%. O arranque dos exames nacionais, em 1995/96, é apontado como o principal catalisador desta quebra inédita de rendimento.
Já sabemos, já todos percebemos.
Quando se insere um mecanismo de avaliação formal mais rigoroso, os resultados ressentem-se e o “sucesso” encolhe-se.
Resta saber se os exames são os responsáveis pelo insucesso e o abandono, ou se o sucesso a montante (até ao 9º ano) não foi um sucesso meramente ilusório em que os alunos foram pass(e)ando pelos vários anos de escolaridade e, em virtude do extremo facilitismo criado pelo regime de avaliação criado alguns anos antes, chegaram ao Ensino Secundário profundamente impreparados e acabaram por ser vítimas fáceis de uma política que promoveu o laxismo na avaliação ao burocratizar de forma desmesurada o processo de retenção dos alunos e obrigando os professores a justificar cada classificação negativa atribuída como se de um pecado inominável se tratasse.
Como consequência, o insucesso e abandono no Ensino Secundário foram apenas os resultados óbvios da prioridade das políticas educativas nos ciclos do Ensino Básico ter sido fazer os alunos transitar e não elevar a qualidade do ensino e prepará-los melhor para os ciclos de estudo seguintes.
Lembremo-nos que a maior parte da década de 90 ficou marcada pelo discurso da “Pedagogia do Sucesso” - sendo possível encontrar a marca do actual Secretário de Estado Valter Lemos em alguns dos escritos mais emblemáticos - que procurava culpabilizar os docentes, especialmente dos três ciclos do Ensino Básico, pelo insucesso dos seus alunos.
Foi o tempo áureo da necessidade de “descer até aos alunos” e de pressão sobre os docentes para assumirem a retenção como uma medida “excepcional” e como um sinal do “fracasso” do trabalho dos docentes e não dos discentes.
Depois, naturalmente, no Ensino Secundário tornaram-se gritantes as carências em matéria de conhecimentos, de técnicas de pesquisa e estudo, de alunos que eram quase obrigados a passar de ano, com um mínimo de esforço.
E não por acaso, com o passar do tempo, o mesmo fenómeno acabou por se estender parcialmente a esse ciclo de estudos e, com o próprio alargamento desmesurado da oferta ao nível do Ensino Superior, cada vez se sentiram maiores queixas quanto à deficiente formação dos alunos universitários.
Se é recorrente cada época queixar-se da deficiente formação dos alunos por comparação com o(s) período(s) anteriores, é difícil negar que nos últimos 15 anos a degradação dos conhecimentos dos alunos foi andando a par da tentativa imposta pela tutela para facilitar a sua progressão no sentido de completarem a escolaridade básica obrigatória com um mínimo de percalços.
Assim se construiu um sucesso administrativo, mas não se construíram as bases de qualidade que eram exigíveis para um crescimento sustentado da escolaridade até ao 12º ano.
Porque os ganhos mais imediatos e a curto prazo muitas vezes comprometem o futuro.
Os exames apenas ajudaram a mostrar como a teia era frágil e se baseava em consepções equívocas e erróneas de sucesso.
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