Os regimes socialistas não têm meios de lidar com inovações tecnológicas destinadas ao uso civil. Um dos motivos é sua dificuldade em lidar com o desemprego tecnológico. Essa é a causa da obsolescência de seus sistemas produtivos.
Sempre causa enorme perplexidade aos historiadores e analistas políticos as contradições que envolveram os avanços tecnológicos na antiga União Soviética. De um inicio aparentemente muito promissor, o país passou a ser um símbolo de atraso e obsolescência.
Sem falar na velocidade com que o país se industrializou antes da segunda guerra mundial, no pós-guerra, a antiga União Soviética levou muito pouco tempo para alcançar os Estados Unidos em termos de armas nucleares, e o ultrapassou na corrida espacial.
Mas após esse inicio triunfal, o sistema de produção socialista aparentemente estagnou. Os produtos de consumo tornaram-se raros, de fornecimento irregular e de qualidade notoriamente inferior a qualquer coisa produzida num país “burguês”. Qual teria sido o motivo desse fracasso?
A resposta é relativamente simples. O complexo industrial-militar, tanto da URSS como dos EUA, não se preocupavam com custos ou produtividade. Cada unidade de produção era orientada somente para o resultado de metas políticas. Ninguém perguntava quanto custava produzir um novo míssil intercontinental ou o número de empregados necessários para levar uma nave espacial a Lua.
Nesse ambiente de fartura de recursos e indiferença pelos custos, tudo parecia ser possível de se realizar. Na verdade era uma economia de guerra e sua produção não se destinava ao povo e sim à satisfação dos dirigentes políticos das duas “superpotências”.
O fim real da guerra fria se deu muito antes da “queda do muro”. Na prática, muitos acreditam que a partir da “crise dos mísseis” em Cuba, ficou mais do que claro que as armas nucleares nunca seriam usadas. A “conquista do espaço” por sua vez, carecia de importância econômica real, e por isso, logo se tornou um “brinquedo” caro demais.
Aos poucos, os povos vencedores da segunda guerra mundial (e os perdedores também) não queriam mais saber de armas para uma nova matança e nem de glórias espaciais. Queriam boas moradias, automóveis, eletrodomésticos e objetos de consumo cada vez mais sofisticados.
Ocorre que para se fabricar um automóvel ou um televisor não se pode contar com recursos ilimitados. Não dá para contratar milhares de empregados e efetuar gastos inúteis sob a confortável alegação da “segurança nacional”. É necessária competência para produzir mais barato, mais rápido e com a máxima qualidade.
O “cliente” agora é o público em geral. Um “potentado” militar, seja de um país socialista ou de um capitalista, limita-se a assinar novas requisições caso considere que seus equipamentos deixam a desejar. Um cidadão comum deve contrair uma pesada dívida ou entrar em uma longa fila para obter um automóvel, por exemplo, e não pode se dar ao luxo de simplesmente jogar em um depósito o que não funcionar direito.
Isso exige fábricas eficientes onde à inovação tecnológica deve visar à produção contínua e não a uma meta global. Construir um avião invisível ao radar é muito diferente de fabricar milhares de toca-discos ou gravadores mini-cassete com qualidade e preço accessível.
Nesse segundo caso, é necessário racionalizar a produção e reduzir os custos ao máximo. A questão é que o caminho lógico para se obter isso é o uso intensivo da microeletrônica na automação dos processos de produção.
Mas a automação implica necessariamente em redução da necessidade de mão-de-obra, ou seja, provoca o fenômeno do desemprego tecnológico. A chamada “terceira revolução industrial” resulta em fábricas (e escritórios) onde o número de operários cai dramaticamente.
Nas economias “burguesas” essa situação nunca constrangeu os responsáveis pela produção, daí o sucesso com que os EUA e seus aliados puderam partir para a “reestruturação produtiva” sem muitos obstáculos.
Mas nas economias socialistas isso tem um preço político simplesmente inaceitável. Não dava para instalar controle numérico computadorizado e mandar torneiros mecânicos virarem camelôs. Muito menos instalar redes de computadores e mandar os camaradas burocratas virarem “perueiros”.
O argumento de que numa economia socialista a planificação pode superar o desemprego não se sustenta nesse caso. O fato é que a mão-de-obra que se torna redundante terá de ser remanejada de uma forma ou de outra. Então só restam duas opções:
1) As estruturas burocráticas resistem a qualquer mudança e se esquivam com sucesso a “reestruturação produtiva” e nesse caso as instalações e todos os processos produtivos tendem a se tornarem progressivamente obsoletos. Ou;
2) As mudanças são impostas de forma autoritária, de cima para baixo, a partir de “ditadores esclarecidos” que pouco se preocupam em adotar práticas que antes taxavam de “capitalistas”.
Não é preciso muita sagacidade para perceber que o primeiro foi o caminho trilhado pela URSS e o segundo pela Republica Popular da China. Os resultados também tornam evidente o que estamos tentando provar: O socialismo real é incompatível com o desenvolvimento tecnológico quando se trata de atividades não ligadas direta ou indiretamente a área militar.
Deng Xiaoping, o líder chinês na época do colapso da URSS não hesitou em reconhecer isso. Todo o atual processo de modernização da China é baseado nas novas tecnologias. Por outro lado, a manutenção do modelo de Estado autoritário demonstra que existe muito menos correlação entre “reestruturação produtiva” e democracia do que se acredita no ocidente.
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/
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