No passado dia 21 assisti ao colóquio sobre Darwinismo e Criacionismo organizado pelo Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa. Foi uma surpresa agradável. Temia que desse uma impressão de simetria entre a posição científica e criacionista, mas o programa estava bem pensado, dividido entre filosofia, ciência, ensino e religião. Mesmo o painel representando a religião mostrou a diversidade de criacionismos e dos aspectos religiosos desta discussão.
A palestra de Jónatas Machado foi uma das razões que me levou ao colóquio, e tive muito gosto em vê-lo ao vivo a apresentar a sua versão do criacionismo. É um bom orador, experiente, e aproveitou bem o erro comum de afirmar que a ciência exclui o sobrenatural. No entanto, os argumentos do criacionismo bíblico evangélico só convencem quem não estiver informado. Com o debate presidido por professores de geologia e biologia, e uma audiência de profissionais e alunos universitários destas áreas, estes argumentos criacionistas foram cabalmente rejeitados.
As apresentações sobre o ensino e filosofia da ciência foram interessantes, mas gostei especialmente do painel científico. O Octávio Mateus deu uma excelente palestra sobre fósseis de transição, mostrando que onde os criacionistas apontam falhas no registo fóssil há por vezes centenas de fósseis de transição, mostrando a evolução gradual de várias características. Dos dinossauros aos pássaros, dos répteis aos mamíferos, de carnívoros terrestres às baleias.
O que me preocupou no colóquio foi que vários apresentaram a ciência e a religião como «jogos» com regras diferentes. Pior ainda, que são as regras da ciência que a proíbem de lidar com o sobrenatural, que é batota meter deuses à mistura com ciência. É falso, e um erro sério.
A ciência é o «jogo» de descobrir como o universo funciona e como tirar partido de tudo o que existe. As regras são ditadas pelo universo, e não por nós. Numa religião podemos inventar regras: exegese, revelação, intuição, meditação, o método é ao gosto do freguês. Em ciência, ou confrontamos hipóteses com observações ou não vamos a lado nenhum. Inventem as regras que quiserem, mas só isto é que funciona. E se partes do universo forem «sobrenaturais», é também assim que teremos que as descobrir e compreender, pois não há outra forma de o fazer. Mesmo que haja unicórnios ou dragões não é com rezas e bíblias que os vamos estudar.
Por Ludwig Krippahl
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