A miséria dos escassos lugares disponíveis na formação profissional aponta para a crise do ensino escolar e profissional
A situação no mercado da formação profissional está pior do que nunca. Abre-se um buraco, que jamais se fechará, entre a oferta e a procura, como revela o mais recente balanço da Agência Federal para a Formação Profissional, apesar de todas as tentativas de paliativos. Dos candidatos, que chegaram aos 763.000, 50.000 ficam de fora logo no início do ano de formação. E isto é apenas "a ponta do iceberg", segundo Regina Görner, da direcção do sindicato IG Metall, pois um número maior será empurrado pela administração do trabalho, para medidas de qualificação baratas, "num acto absurdo de linha de espera". Não se trata de uma ruptura passageira, mas de uma tendência de longo prazo. Por isso já não serve a má desculpa demográfica da "geração de forte natalidade". De facto, pela primeira vez encontram-se entre os candidatos aos lugares de aprendizagem mais "casos antigos" do que finalistas da escola. E esta diferença cresce de ano para ano.
Do lado da procura a miséria dos escassos lugares disponíveis de formação aponta para a decomposição do sistema escolar em três ramos e das perspectivas profissionais a ele ligadas. A velha equiparação da escola secundária básica [Hauptschule] ao ensino industrial e artesanal, da escola secundária média [Realschule] à formação administrativa, empregados de escritório, etc. e do Liceu [Gymnasium] ao estudo para profissões académicas, deixou de funcionar. Isto tem muito a ver com o facto de, contrariamente a todos os sermões dominicais dos políticos, as despesas estatais com a educação serem drasticamente cortadas. A crise do mercado de trabalho cruza-se cada vez mais com a crise das finanças do Estado e consequentemente de todo o sistema de ensino. Por um lado, a escola secundária básica [Hauptschule] está sistematicamente à beira da ruptura devido a medidas de poupança, e joga fora cada vez mais jovens sem conclusão escolar, ou seja, sem qualificação alguma, os quais não têm nenhuma chance de obter uma formação profissional. Por outro lado, o desemprego estrutural atingiu entretanto, não só os sectores médios da administração, comércio, banca e seguros, mas também as profissões académicas. Uma vez que, em parte, os graus académicos só levam à falta de perspectiva da "geração de estagiários", mal pagos ou mesmo não pagos, o número de candidatos a um lugar de formação profissional, com qualificação para entrar na universidade e em cursos técnicos superiores, só este ano subiu à volta de 9 %, atingindo mais de 100.000 casos. De resto, o encargo financeiro dos cursos superiores provoca o seguinte: Nos estados federais que já introduziram propinas no ensino superior, é muito mais frequente que os estudantes com qualificações para esse ensino, procurem antes os lugares médios de formação profissional. Assim ficam pelo caminho os candidatos vindos da escola secundária básica [Hauptschule], porque agora têm que concorrer com a massa dos vindos de escolas técnicas superiores e de liceus.
A situação está a agudizar-se dramaticamente com a simultânea diminuição progressiva da oferta. Se em 1999 se firmaram ainda 631.000 contratos de formação, em 2005 já foram só 550.000 e em 2006 serão menos de 500.000. A formação profissional pertence aos factores de custo, que são eliminados como peso morto, sob a pressão da concorrência de crise global. Num já considerável número de grandes conglomerados, é a crescente orientação para os mercados financeiros, por causa da falta de acumulação real que, numa manobra de política de redução de custos, atira para segundo plano não só a produção de bens como também a formação prática. E muitas pequenas empresas, à beira da bancarrota, suprimem os lugares de formação sob pressão da luta pela sobrevivência. A crise do sistema escolar em três ramos é simultaneamente a crise do sistema dual de formação profissional: as escolas profissionalizantes enchem-se com um número crescente de desempregados e finalistas da escola secundária básica que não conseguiram um lugar na formação profissional. Com estas condições, segundo um estudo recentemente publicado, os actualmente 8% da população pobres ou da camada inferior na Alemanha vão subir em flecha no próximo ano; e perante o contínuo corte nos lugares de formação, este aumento não virá apenas do "proletariado da formação profissionalizante", mas também de entre os jovens com qualificações médias, postos de lado. O capitalismo abandona os seus filhos.
Robert Kurz
http://www.exit-online.org/
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