sexta-feira, março 16, 2007

Kropotkine

Fora do universo proudhoniano há uma obra de importância fundamental. É de Pierre Kropotkine e chama-se em francês "L`Entraide - Un Facteur de L`Evolution".
"Apoio Mutuo" na tradução castelhana.
Em português a tradução é enexistente mas poder-se-ia chamar, a existir, "Entreajuda".

Esta obra surge como resposta À Origem das Espécies de Darwin que tinha saído em 1859 período de grande reacção dos poderes constituídos, um pouco por essa Europa fora...

O meu propósito com a colocação desta notícia não foi mostrar que "a teoria da evolução de Darwin há muito que deixou de ser 100% correcta e credível" como disseram o Mamede e o Manuel embora considere que de um modo criterioso, lembrar este facto não deixa de ter o seu peso.

O meu objectivo foi outro: Com esta obra, Kropotkine que realizou um estudo aturado de vários anos defende a tese e demonstra-a com vários exemplos que a entreajuda pela existência é uma lei da Natureza, do mesmo modo que a luta pela vida, elevada erradamente pelos darwinistas à categoria de regra única, implacável e universal.
Kropotkine mostra que esta obra é adversária à tese que defende que a lei da selva, ideia que resulta da falsa interpretação da luta pela existência, tantas vezes apresentada pelos poderes políticos e religiosos, como fatal à sobrevivência de toda a espécie viva.

pedro b. em 2003-01-20

“Kropotkine, que realizou um estudo aturado de vários anos, defende a tese e demonstra-a com vários exemplos, que a entreajuda pela existência é uma lei da Natureza, do mesmo modo que a luta pela vida - elevada erradamente pelos darwinistas à categoria de regra única, implacável e universal.” (Francisco Trindade)


A aplicação das teorias de Drawin (lei da selecção natural) às sociedades humanas foi feita, pela 1.ª vez, por Herbert Spencer (Os Princípios da Sociologia, 1876-1885 – obra hj, feliz/, mais do q desacreditada). È claro q akilo q aki mais seduzia (aos olhos da classe dominante) era a ideia da “sobrevivência dos mais aptos”, i.e. a inevitabilidade NATURAL dos ricos enriquecerem, teoria do “self-made man” etc. Como se dizia no tempo do cavaquismo, “os pobres n são pobres, são incompetentes e falhados”

A tentação de explicar (ou ditar) comportamentos humanos CULTURAIS a partir de uma base “natural” ou biológica, foi sempre 1 constante das ideologias. Assim, a igreja católica (S. Tomás de Aquino), ainda hj se baseia nakilo q é “natural” e nakilo q é “contranatura”, p/ condenar o aborto, o sexo q n se destine à procriação (masturbação, relações homossexuais, uso da pílula) ou até, o simples divórcio.

As teorias do neodarwinismo, darwinismo social, ou sociobiologia, têm-se desenvolvido sobretudo nos países anglosaxónicos. Entre os autores mais conhecidos, está Desmond Morris, autor de “O Macaco Nu” (cf. tb “O Zoo Humano”, ambos publicados pela Europa-América).

Menos popular, mas mais perigoso, é o livro de Konrad Lorenz (q por acaso é austríaco [?]), “A Agressão: uma história natural do mal” (Moraes Editores, 1973, mas existe uma edição mais recente, penso q da Relógio de Àgua). Lorenz é 1 estudioso da etologia (estudo do comportamento animal, depois aplicado aos humanos). “O meu livro trata da agressividade, ou seja, do instinto de combate do animal e do HOMEM, dirigido contra o seu pp congénere”, lê-se no prefácio. O autor, q diz ter tido a ideia do seu livro “ao estudar, no seu habitat natural, os peixes de coral dos mares quentes, peixes cuja agressividade contribui manifestamente para a conservação da espécie”, estuda diversos tipos de sociedades animais (a q corresponderiam outros tantos tipos humanos): a luta de todos contra todos ou “a vida social e CONJUGAL [logo aki já mistura conceitos, projectando akilo q são noções CULTURAIS humanas no mundo natural] inteiramente desprovida de amor das garças-gorazes”; a sociedade anónima das ratazanas “cujos membros n se reconhecem enquanto indivíduos mas pelo cheiro tribal...” e n atakam os do grupo mas perseguem “com ódio e persistência” [mais uma vez sentimentos humanos abusiva/ aplicados ao mundo animal] os membros de outra tribo, e final/ akelas sociedades, como a do ganso cendrado, cujos membros n se atakam mutua/ porq existem, “entre os indivíduos, laços de AMIZADE E AMOR q a isso se opõem”.

A partir das suas observações acerca dos peixes, ratos e restante bicharada, Lorenz sente-se autorizado a tecer comentários sobre qual a melhor forma de o ser humano se organizar em sociedade, pretendo ter feito “uma descrição objectiva da situação actual da humanidade, + ou – como a veria 1 biologista do planeta Marte”.

Mas ambos os autores são 1 brincadeira de crianças, comparados c/ o americano E.O. Wilson e respectivos discípulos.
Wilson (prof em Harvard) é o verdadeiro fundador da sociobiologia (“Sociobiology: a new synthesis”, Harvard Univ Press, 1975 e “On Human Nature” [sempre a NATUREZA, como n podia deixar de ser!!] , idem, 1978 ).

Sociobiologia: uma nova “ciência” q incorpora a etologia (de K.Lorenz), a ecologia (a relação interdependente dos organismos c/ o meio: qd o meio é alterado [exemplo: 1 greve] há uma resposta/feed-back, e repõem-se o equilíbrio, i.e. o status quo... ), e a genética.

P/ Wilson (1 das maiores autoridades mundiais no estudo de insectos) e seguidores, o comportamento q favoreceu os “triunfadores” da luta pela selecção é genética/ transmitido aos seus descendentes (o q este autor se eskeceu de explicar foi q comportamentos CULTURAIS, como a vontade de enriquecer à custa dos outros, ou a capacidade de jogar no mercado de acções da Bolsa de Nova Iorque, n são transmissíveis por via genética...).

P/ os sociobiologistas, existem predisposições genéticas p/ o espírito d competição entre os machos, submissão das mulheres, xenofobia, racismo e, até p/ acreditar em Deus(!) e deixar-se convencer.

Wilson (citado in A. Dorozynsky et al., “A Manipulação dos Espíritos”, Assírio e Alvim, 1982, p.137):
“A existência e a sobrevivência de um grupo requerem 1 certo grau de CONFORMISMO, SENÃO O GRUPO PODE CAIR NA DESORDEM E NA EXTINÇÃO. A disponibilidade do homem para se deixar convencer é, pois, uma característica hereditária, seleccionada pela evolução...”

Do n.º de ovos e espermatozóides, os sociobiologistas extrapolam características suposta/ inatas nos h.s e nas mulheres: elas tímidas e passivas, eles activos, inconstantes, “dormindo c/ qquer uma”; é tb a partir do n.º de ovos, potencial reprodutivo LIMITADO, q se explica a luta dos machos-homens pela posse do maior n.º possível de mulheres. Os machos mais fortes e agressivos são os q se reproduzem. Esta agressividade (hereditária) fornece depois as bases biológicas da dominação do homem sobre as fêmeas, da hierarquia entre os homens, e da guerra.

P/ o britânico R. Dawkins, autor de “O Gene Egoísta” (publicado pela Gradiva), o comportamento de cada espécie explica-se pelos desígnios egoístas dakilo q é a verdadeira “chave” da evolução natural: os genes. O 1.º objectivo de 1 ser vivo (mesmo q ele n saiba disso...) é a sobrevivência do seu património genético individual; foi p/ isso q a NATUREZA (deus?) o “programou” desde o princípio dos tempos. (Na verdade, n haverá antes aki uma sobrevivência do desejo pekeno-burguês de perpetuar o nome e propriedades de família num descendente, se possível varão – desejo inconsciente/ transferido p/ o mundo animal?)

Não se exclui a hereditariedade de tendências altruístas, desde q esses comportamentos favoreçam a sobrevivência, já n da espécie (o q seria comunista...) mas do património genético individual. A ave q se sacrifica para salvar a ninhada, por ex. O seu altruismo é 1 forma de egoísmo genético (o mesmo, evidente/, para os seres humanos!).

No caso da “mosca-escorpião”, o macho torna-se presa da fêmea q o devora durante a cópula. A fêmea escolhe p/ tal o macho mais gordo. Ambos ficam a ganhar!! É q quanto + gorda for a presa, + quantidade de substâncias nutritivas serão acumuladas pela fêmea, e + numerosa será a descendência!

«David Barash [cujos livros são mt populares nos EUA; por ex. “The Whisperings Within”, Harper e Row, 1979], tenta mesmo provar q a violação seria natural no homem. Recolhendo exemplos no reino animal (abelhas, minhocas, patos...) e vegetal (invoca a violação das flores femininas pelas flores masculinas! ), alega a inocência do violador e faz mesmo o seu elogio. Sugere, firmemente, que os violadores não são mais do que os instrumentos involuntários de uma pulsão genética cega. A violação é uma necessidade inconsciente de reprodução e, por isso, biologicamente falando, vantajosa e inevitável ao mesmo tempo.
Estas teorias provocariam o riso, se não tivessem ainda um público nos países anglo-americanos.»
(Elisabetb Badinter, “X/Y, a Identidade Masculina”, Asa, 1997, p.41)

De facto, estas teorias ridículas encontram público entre os mais incautos e (hereditariamente?) ignorantes. A revista SUPER-INTERESSANTE, por ex., traz mtas vezes artigos onde o argumento sociobiologista é apresentado como a coisa mais “natural” (NATURAL, claro...) do mundo. Tb recente/, a editora Pergaminho, editou um livreco de q n recordo o título mas q penso se integra numa colecção chamada “Os herdeiros de Darwin” (capa: um sinal d trânsito de “obras na estrada”, c/ 1 mulher de saia segurando 1 pá, em vez do tradicional homenzinho de capacete). Aí se defende q o acesso da mulher ao emprego e à vida pública (quando deveria era ficar em casa a tratar da prole, tendo em conta as suas tendências inatas) tem criado inúmeros problemas: as repartições públicas n funcionam, a polícia está desacreditada, e a admissão de mulheres no exército (o autor é americano)... “está a pôr em causa a segurança nacional”.

Devo notar q, do meu ponto de vista, todas as teorias q se alicerçam no estudo das sociedades animais ou vegetais (insectos, ratos, árvores e quejandos) para explicar a sociedade humana, sejam estas explicações oriundas dos neodarwinistas, das ecofeministas (q, embora com objectivos opostos, partilham da mesma crença na existência de uma “natureza” masculina e feminina imutáveis: a mulher, pelo seu ciclo biológico, está mt + próxima dos ritmos da “mãe natureza”), dos ecofascistas, dos biólogos dos tratados de xadrez, ou do bem-intencionado Kropotkine (cujo livro, citado pelo f.trindade, confesso q nunca li) - todas elas têm, do meu ponto de vista, 1 mesmo destino: o caixote do lixo.

As investigações de kropotkine (como as de algumas feministas, q se deram ao trabalho de recolher exemplos, tirados do reino anima, q contradizem em absoluto as teses dos sociobiologistas) apenas servem de contra-exemplo. I.e. desmarcaram os pressupostos ideológicos subjacentes às teorias criticadas, mas n criam 1 nova, baseada no mesmo procedimento: projectar ideias retiradas da realidade humana no mundo NATURAL, p/ assim justificar tudo e mais alguma coisa. O pp modo de proceder é q está errado, e n apenas as ideias.

O racismo, a xenofobia, a competição desenfreada, a exploração das mulheres... estão erradas. A entreajuda de kropotkine está certa. Mas para prová-lo n é preciso ir buscar exemplos às colónias de formigas nem aos peixinhos do recife de coral.

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