domingo, março 04, 2007

A NOVA ONDA DE RACIONALIZAÇÃO

A conjuntura movida pelos circuitos globais do deficit chegou a novas esperanças de uma inversão da tendência de destruição de postos de trabalho. Abstraindo do facto de que já nos próximos meses faltará o ar a estas melhorias, no plano dos mercados de exportação, monetário e financeiro, estas esperanças ligam-se apenas ao desenvolvimento superficial da conjuntura. Assim se desvia a vista do problema profundo da racionalização tecnológica. Aqui, porém, é que reside a causa autêntica do desemprego estrutural de massas. Na terceira revolução industrial o capitalismo desfaz a sua própria substância trabalho e quanto a isso nada mudou. Pelo contrário, anuncia-se uma nova onda de racionalização tecnológica para os próximos anos.
Até meados dos anos 90 foi sobretudo o emprego industrial que se reduziu dramaticamente. Era essencialmente o trabalho manual (incluindo, é verdade, o trabalho altamente qualificado) que se tornava supérfluo em grande escala com a robótica industrial. Nos últimos dez anos a racionalização concentrou-se então nas profissões burocráticas, por meio de apuradas tecnologias de informação e de redes, o que acabou por levar à destruição de emprego nos bancos e companhias de seguros. Na indústria continuou o processo de diminuição do trabalho rentavelmente utilizável, em primeira linha através do encerramento de fábricas, liquidação de empresas e outsourcing para países de baixos salários. Agora, porém, sobressai uma nova qualidade da racionalização tecnológica, que afectará, de novo, o trabalho manual remanescente.
Até agora a robótica industrial encontrava os seus limites onde se mostrava necessária a múltipla articulação da mão humana no manuseio de formas irregulares. O material tem que ser previamente separado para os robots de produção, porque eles só conseguem agarrar mecânica e "unidimensionalmente". É o problema da "pega no caixote", como é conhecido entre os informáticos. A robótica não dispõe de uma articulação suficientemente fina para poder lidar com peças diferentes, irregulares. Isto está agora a mudar. A "Defense Advanced Research Projects Agency" (DARPA), em ligação com diversas instituições universitárias de pesquisa, está em vias de desenvolver uma nova geração de robots industriais. Esta think-tank do exército americano já tinha desenvolvido a Internet, as tecnologias de camuflagem e o sistema de navegação por satélite. Os novos robots já não agarram com garras ou grampos mecânicos, mas com tentáculos multi-articulados e flexíveis, como uma espécie de polvos, que também poderão ser aplicados em materiais irregulares em "ambientes não estruturados". A área de aplicação deve estender-se da produção industrial à cirurgia e deixar na sombra tudo que até agora era possível na robótica.
Com o aparecimento das novas tecnologias "Octor" (este é o nome do projecto) é previsível que, não só no emprego industrial nuclear, mas também em muitos dos chamados serviços pessoais o trabalho manual humano se tornará supérfluo numa nova dimensão. Pode demorar alguns anos. Mas o desenvolvimento mostra que os potenciais de racionalização da terceira revolução industrial ainda estão longe do esgotamento. A desvalorização da força de trabalho prossegue imparavelmente. Contudo, as máquinas não criam valor, porque não conseguem constituir nenhuma relação social. Mas assim prossegue também a "desvalorização do valor", que perde a sua substância trabalho.
Robert Kurz
http://obeco.planetaclix.pt/

Sem comentários: