sábado, março 17, 2007

O Fim da História ou a Tríplice Aliança

Este não pretende ser um texto cerebral, analítico, desapaixonado. Pelo contrário, pretende, com as suas limitações, ser um texto de combate, duro e feio na medida necessária para causar alguma indignação. Porque não há que ter vergonha de defender com unhas e dentes o que se julga ser o mais certo e atacar aquilo que se considera ser erro grosseiro.
Porque há algum tempo que eu vou remoendo a minha perante , que agora mesmo para o Ensino Secundário surge acoplada à formação em Geografia como se tivessemos voltado aos bons velhos tempos da viragem do século XIX para o XX, anteriores aos Annales, anteriores mesmo a Seignobos. Como se História e Geografia, apesar de disciplinas confinantes que se intersectam, não fossem áreas disciplinares distintas, com métodos e técnicas que se diferenciam claramente e cuja aglutinação, compreensível no 2º CEB, ao nível do Ensino Secundário só pode conduzir a uma triste redução da qualidade das duas disciplinas e a um lamentável empobrecimento curricular, por via da condensação dos conteúdos. Sei que lá fora há experiências do género, mas não é necessário importarmos asneiras, mesmo com aroma parisiense.
Mas a verdade é que a Tríplice Aliança que existe neste Governo entre um arremedo de Engenharia, alguma fraca Sociologia e um naco de más Ciências da Educação só podia acabar nisto, na tentativa de abafamento e destruição da matriz primordial do pensamento humano que passou pela Filosofia, pela História e pela própria Geografia, não só desde o tempo áureo da Grécia Clássica mas mesmo remontando bem mais longe.
Não vou aqui fazer a milionésima variação do discurso sobre o ataque contra a História (ou a sua apropriação e manipulação) como a estratégia preferida dos que gostam de apagar os mecanismos de preservação da Memória Colectiva. Poderia evocar os escritos dos Combates pela História de Lucien Febvre, mas mesmo isso seria apelar a muito atendendo aos visados. Que não merecem sequer essa curta erudição.
Reduzamos a coisa ao mais simples: do senhor Engenheiro, com o respectivo sui generis background académico pouco seria de esperar em relação a preocupações “intelectuais” (a esse propósito e sobre a aversão aos intelectuais é notabilíssima a crónica de hoje de Manuel António Pina na Visão) como essas coisas da História ou Filosofia, matérias pouco palpáveis e traduzíveis em números para mostar em powerpointes televisionados. Dos representantes da Sociologia, essa por certo nobre mas neófita Ciência Social, arrancada a ferros da extremidade mais contemporânea da História nos últimos 100 anos, percebe-se o remoque e o desforço. Do “cientista” ou “mestre” da Educação, “por equiparação” (Viva Bolonha, que tanta muita outra equiparação vai fazer multiplicar!) de especialização americanizada por sobre umas biologices originais, então ainda mais dificilmente se compreenderia que entendesse que existem mais estrelinhas no céu do que no seu pratinho de canja insonsa.
Malfadada pois, esta Tríplice Aliança que, à moda da outra, optou por iniciar uma guerra para se fazer impôr e escolheu o exercício da violência contra os seus adversários mais incómodos em vez de com eles dialogar para mútuo proveito. O nosso dever cívico é, portanto, resistir-lhe com todas as forças e combatê-la apaixonadamente , não com as mesmas armas, mas apenas com as da Razão.
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