Nos últimos dias repetiram-se os casos que engrossam estatísticas como as apresentadas ontem pelo Público.
A cada dia de aulas que passa, são agredidos violentamente 2 ou mais professores e os casos denunciados e registados (os casos efectivos serão quase outros tantos, dependendo do tipo de violência de que falemos) de violência nas escolas são às dezenas. Por dia.
Se é certo que não devemos ceder a um populismo alarmista, também custa aceitar que os responsáveis por Observatórios e Grupos e Estruturas de Missão cujo trabalho é estudar estes fenómenos estejam sempre a desvalorizá-los e a afirmar, como o sociólogo João Sebastião, que estes números não colocam em causa o funcionamento do sistema educativo.
Na sua acepção mais restrita isso é verdade, a escolas continuam a funcionar. Mas continuam a funcionar em muitas zonas sobre brasas e em clima de temor para muitos docentes, alunos e funcionários.
E a violência nem sempre se manifesta apenas no interior das escolas, sendo usual que se manifeste como um quotidiano envolvente para muitos dos que acabam por encontrar na Escola, apesar de tudo, um relativo refúgio.
Hoje, por exemplo, foi o funeral de um jovem adolescente, namorado de uma aluna do 6º ano da minha Escola, morto a tiro por causa de uma disputa em torno de telemóveis roubados. Existe um gang, desculpem os politicamente correctos, um grupo de jovens que se dedica à prática do furto e comercialização dos ditos telemóveis na zona, tendo existido um conflito entre dois amigos acerca de quem deveria ficar com um deles. A coisa acabou com três tiros à porta da casa de um deles.
Claro que a vida continuou para todos os que ficaram vivos.
E claro que as escolas não páram sempre que um docente ou aluno é agredido e maltratado de forma continuada. Mas isso é prova da sua resistência à adversidade, não da inexistência de um problema que se vai avolumando.
E ainda é mais claro que burocratização da violência, reduzindo-a a grelhas numeráveis e quantificáveis, apesar de útil para estudos sociológicos, não chega como medida preventiva. E então quando se acha melhor excluir dessas fichas certos fenómenos, porque se acha que os professores os não sabem identificar e sobrevalorizam, já percebemos a estratégia “remediadora”.
Das fichas uniformizadas foi excluído o fenómeno de “bullying”, utilizado quando existe violência entre colegas. A explicação é simples. Paula Peneda defende que tem havido “uma importação do conceito sem que este seja correctamente apreendido. Perante o risco de banalização, quando na verdade o “bullying” pressupõe uma “agressão física ou psicológica continuada”, o termo foi riscado das fichas. A sua identificação, a partir da descrição de ocorrências, ficará a cargo do Observatório.
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