segunda-feira, abril 02, 2007

Abril, Mentiras Mil?

Confesso que tinha elaborado algumas ideias para postar hoje, de tipo tradicional, aproveita-se o dia e anuncia-se que Maria de Lurdes Rodrigues convida dois professores sindicalistas não candidatáveis a titular para almoçar, ou mesmo que Valter Lemos admitia finalmente conhecer a utilização das regras de civismo básicas na forma como se lida com outras criaturas humanas que não as que concordam com ele. Cheguei mesmo a pensar anunciar que a palavra do secretário de Estado Jorge Pedreira sobre a TLEBS era para levar a sério.
Mas depois, olhando em redor, facilmente conclui que vivemos em permanente 1 de Abril neste país, onde a mentira pública e de detentores de cargos políticos é sempre política e nunca é mentira. Como se uma mentira política fosse outra coisa, um conceito distante, de outro cosmos. E num país onde o pessoal político foi ficando cada vez de dimensão mais escassa, verdadeiros anões e anãs em matéria sde sentido de Estado. Porque o balanço destes últimos tempos é, em matéria de Educação enquanto sistema e da mera educação de alguns governantes, verdadeiramente lastimável. Vejamos casos que não são isolados e que, só por manifesta intenção desculpabilizante, podem ser considerados menores:
• Dando o mote, o Primeiro-Ministro foge da transparência acerca do seu currículo a sete pés. Aqui não há qualquer tipo de reserva de privacidade que se possa alegar. Nem é assunto para brincadeiras do tipo, tcharammm, agora está aqui tudo explicadinho, eu só estava a fazê-los sofrer. O silêncio de Sócrates nesta matéria, e até a ausência de um contra-ataque inflamado e indignado como foi seu timbre na campanha eleitoral sobre outros temas, faz-nos pensar que há um gordo gato escondido, tão gordo que não está só o rabo de fora. E a situação da Univesidade em que ele terá completado o seu percurso académico, não ajuda nada a tranquilizar ninguém sobre as razões do silêncio. Alguém que debita uma retórica - cheia de lugares-comuns e vacuidades é certo - sobre a necessidade da qualificação dos portugueses, afinal hesita em mostrar provas daquelas que oficialmente afirma ter. Estranho. A menos que interpretemos qualificação como mera certificação, e então tudo está bem. Ele afirma que tem de certeza certo tipo de qualificações e todos nós aceitamos isso, tenha ou não feito o respectivo plano de estudos e cumprido as suas obrigações. Afinal, nada de muito diferente do que aconteceu com muitas acções de formação profissional das últimas décadas: tu levas o diploma, eu fico com o dinheirinho da formação e vamos todos à nossa vidinha. Não cehga argumentar que tudo se deve a “procedimentos” da Universidade Independente ou alegar que se estão a aproveitar os problemas actuais daquela instituição para qualquer tipo de ataque como surge hoje no Público (p.12). As dúvida são muito anteriores. Lamentável, absolutamente lamentável. E o incómodo parece ir alastrando.
• Em seguida temos uma Ministra da Educação que para além de ter um currículo que desdiz qualquer especial competência (mesmo uma qualquer competência “não-chave”) para o cargo, demonstra uma anormal incapacidade para elaborar um discurso sobre as matérias de que aparentemente é responsável ao nível da decisão política, sem ser em ambiente controlado. Sempre que sujeita a um contraditório moderado - nunca a vi ser verdadeiramente “entalada” - vai-se completamente abaixo, começa a titubear, enerva-se, refugia-se em chavões contraditórios (ora se queixa de caricaturas e generalizações abusivas, ora de exemplos demasiado concretos), acabando por desaparecer dos confrontos negociais mais delicados na sua área de governação. Depois de tanto criticar os docentes, alegando que são eles os responsáveis pelos males da Educação em Portugal, afirmando uma enxurrada de platitudes sobre a necessidade de mérito dos docentes, conhecemos agora, em registo indesmentível, a forma como reage perante os próprios alunos que a contestam. E consta que não foi caso único, em especial em ocasiões onde as câmaras televisivas estavam ausentes. Valha-nos, pois, a idade da tecnologia digital. Num país normal, esta atitude, tal como a que teve em relação às decisões dos tribunais açorianos, valer-lhe-ia um bilhete de ida para lado nenhum. Cá, continua a passar por ser uma pessoa de bom senso. ?????? A atitude visível no vídeo agora divulgado é de alguém com bom-senso? E isto também o será? Quantos milionésimos do Orçamento vale este tipo de decisões?
• E para abrilhantar esta selecção de excelência que dizer do inefável secretário de Estado compressor, o peso-pesado Valter Lemos, homem de aparente confiança de Sócrates para meter na ordem deputados, outros secretários de Estado e infantilizar até à medula o nosso sistema educativo? Parafraseando alguém, na impossibilidade compreender e elvar os padrões de exigência do nossos istsmea de ensino, VLemos prefere baixá-los até os compreender e conseguir lidar com eles. A sucessão de “acidentes” jurídicos de decisões com a sua chancela, aconselharia a alguma discrição e modéstia, mas afinal o resultado é alguém que grita com os deputados do próprio partido do Governo quando é questionado, e que defende a valorização de “quem está na escola”, mas depois bonifica com extrema generosidade quem anda pelos corredores do Ministério. Também ele, num país apenas em vias de ser normal, nunca chegaria a Secretário de Estado com o seu anterior registo curricular, como autarca e dirigente do Ensino Politécnico. Por cá fará o seu mandato em paz e tranquilidade e será recompensado no final, veremos se com uma comenda como Ana Benavente.
• Por fim o discreto e, até chegar a este Governo, sério Jorge Pedreira, pessoa aparentemente rigorosa e de ideias claras. Não sei se por necessidade ou por solidariedade, JPedreira foi uma enorme desilusão ao tornar-se mero homem de mão para negociar com antigos confrades sindicalistas, talvez por lhes conhecer os truques e partilhar-lhes a rigidez argumentativa. As negociações em torno do Estatuto da Carreira Docente e do primeiro concurso para professor-titular foram meras ficções com o enredo definido á partida. Um enredo eficaz, mesmo se não muito imaginativo. Pelo caminho a defesa de posições absolutamente insustentáveis como a penalização de diversos tipos de faltas dos docentes - que naturalmente teriam de cair tamanha era a sua inconstitucionalidade que nem valia discuti-la - e a defesa de um sistema de quotas para a progressão dos docentes dos Ensinos Báscico e Superior que ele explicitamente condenou para os do Ensino Superior enquanto dirigente sindical. Sei que concordava então com carreiras verticais, mas nunca com o sistema de quotas. Em relação à TLEBS, até prova em contrário, faltou à verdade na promessa que fez quando lhe entregaram a petição. E, entretanto, continuamos sem saber no que ficamos, pois parece que alguém o terá desautorizado a sangue frio. O que deve ter doído. Mas quem come e cala é porque consente.
A cereja em cima deste bolo magnífico é ainda a questão da TLEBS, a demonstração de que quem manda em várias áreas do ME não são os políticos ou os sindicalistas (como alguns gostam de fazer crer) mas grupos de pressão internos, gente que há décadas se mantém em comissões, grupos de trabalho, estruturas de missão, grupos de acompanhamento, comissões de avaliação e tudo o mais, gente que nunca surge verdadeiramente à luz do dia, mas cujos nomes se podem encontrar nas fichas técnicas de muitos documentos. Gente que prefer mexer os cordelinhos na sombra e defender os seus feudos à custa do interesse comum. Um exemplo claro dos prejuízos brutais deste tipo de atitude: faltam sete semanas para as provas de aferição de Língua portuguesa do 6º ano e ningúém sabe os critérios por que se vão reger as ditas provas. E logo num ano em que haverá exposição pública de pautas. Argumentarão que docentes e alunos devem estar preparados para tudo e que se o terreno está cheio de buracos está para todos. Certo! Certíssimo!!! Mas também é verdade que houve mais do que tempo para que as coisas corressem com normalidade, até porque os professores-supervisores da correcção das provas já estão em formação. E, ou a formação se baseia em algo e isso deveria ser disponibilizado aos outros docentes, ou não se baseia em nada de concreto, e então não se percebe.
E então uma boa continuação de um longo primeiro de Abril, porque ele é sempre que o ME quiser.
http://educar.wordpress.com/

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