Uma certa propaganda oficial bem sucedida vem impingindo-nos que cada vez estamos avançando para uma sociedade do conhecimento, em que cada vez mais as profissões exigem maiores qualificações e maiores conhecimentos. Ora essa seria sem dúvida uma boa notícia e um bom rumo para uma sociedade: pessoas mais sabedoras, mais qualificadas, mais evoluídas ao nível do conhecimento. Só que essa retórica encobre uma realidade bem diferente do que existe nos nossos países capitalistas mais desenvolvidos: há uma grande polarização entre trabalhadores, entre os que requerem uma grande qualificação obtida em estudos especializados de longa duração e aqueles (os ditos Mcjobs) que requerem qualificações mínimas e que se aprendem na realização das próprias tarefas. Em outros posts tenho alertado para estas questões.
Um artigo de jornal do público de hoje referia que a McDonald's está contra a definição de "Mcjobs" que já entrou em vários dicionários como "um trabalho pouco estimulante, mal pago e com poucas perspectivas, especialmente criado pela expansão do sector dos serviços". E tem tentado, até agora em vão, que os responsáveis pelos dicionários mudem esse termo e essa definição, ameaçando até recorrer aos tribunais. Neste artigo encontram-se dados absolutamente reveladores da realidade económica e do actual "mercado de trabalho" dos Estados Unidos da América. Vejamos: "um em cada três empregos nos EUA pagam salários baixos e não oferecem perspectivas de progressão ou melhoramento profissional"; "há cerca de 44 milhões de trabalhadores nos EUA a receber salários inferiores à média nacional de 16 dólares por hora, e sem acesso a seguro de saúde e a um plano de pensões". "E com demasiada frequência verificamos que estes empregos mal remunerados estão a substituir aqueles que durante décadas sustiveram uma vasta classe média"... "o mercado de trabalho está cada vez mais polarizado entre empregos muito bem pagos e empregos muito mal pagos, à custa da classe média".
É "interessante" no artigo do público ver como os professores estão entre as dez profissões mais mal pagas da América, embora essa lista, como diz no artigo, tenha sido "elaborada tendo em conta não apenas a remuneração líquida (o montante efectivamente ganho por cada hora de trabalho) mas também as condições de trabalho, as exigências físicas e psíquicas e a compensação social do trabalhador." É interessante como um artigo refere verdades tão importantes, significativas e globais mas embutidas num texto cujo título parecia circunscrever precisamente. Este é um exemplo de como o jornalismo, mesmo dentro de padrões conformes com o politicamente correcto nos pode fornecer informações importantes, mesmo que não intencionalmente (ou talvez não, ou não fossem a maior parte dos jornalistas vítimas duma exploração desenfreada do seu trabalho).
Aos professores portugueses, digo eu, a continuar a aprofundar-se as políticas neoliberais têm ainda muito a perder e muito por onde perder. O horizonte aponta para países mais "evoluídos" como os States. Resistir a este rumo é preciso.
http://edutica.blogspot.com/
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