quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Défice 3%, Despesismo +19,3%

Quando foram revelados os números da execução orçamental de 2007, apresentados pelo Governo de José Sócrates como uma vitória histórica, chamámos-lhe um fracasso triunfal. À data ainda não havia dados sobre a evolução das componentes da despesa, mas já se sabia que tinha derrapado mais do que os 2,1% da inflação oficial e do que os 2,5% da inflação real. 3,22% só por si era um resultado péssimo, tendo em conta os conhecidos cortes no investimento público – a parte da despesa capaz de gerar riqueza e impulsionar a economia –, o encerramento de serviços públicos, o congelamento de carreiras na Administração Pública e uma mobilidade especial que reduziu efectivos e, logo, salários. Com a redução nestas parcelas, para que a despesa tivesse derrapado 3,22%, outras parcelas teriam que ter aumentado muito mais que esse valor e o fim do despesismo, a mensagem mais forte do discurso vitorioso com que o resultado foi apresentado, não seria mais que uma nova miragem. Hoje confirmamo-lo.

Através da edição de hoje do CM, ficamos a saber para que serviram, por exemplo, os cortes no investimento público e o que se pagou com os serviços públicos que deixaram de prestar-se, com a perda de poder de compra e com o congelamento de carreiras dos funcionários públicos, com a redução dos salários daqueles que foram mandados para casa e com a redução das migalhas que resultou da retirada de benefícios fiscais aos cidadãos portadores de deficiência: Retirou-se ao público, por ser público, e transferiu-se para o privado, por ser privado.
Entre 2006 e 2007 a despesa com remunerações aumentou 63 milhões De euros, ou seja, 0,8 por cento, enquanto os gastos com a aquisição de serviços subiu perto de 155 milhões de euros, isto é, 19,3 por cento.
Os famosos resultados. Fruto da eleição e do combate a interesses corporativos, tão poderosos como inesperados. Fruto do labor e do zelo de governantes sábios e impolutos, em nome do interesse público, através da salvaguarda de interesses privados. Até se lhe chamou uma reforma. Houve quem perdesse, muitos, e sabe-se quem foram. Mas houve também quem ganhasse. Em nome e em favor de quem se governou fica para o próximo capítulo, a não perder, brevemente, num jornal perto de si.

http://opaisdoburro.blogspot.com/2008/02/dfice-3-despesismo-193.html

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