quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Judeus estão a fazer um holocausto em Gaza

Palestinianos e organizações de direitos humanos que operaram nos territórios da Palestina Ocupada, acusaram Israel de estar a fazer um verdadeiro holocausto contra os estimados 1,5 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, no seguimento de uma decisão do ministro israelita da Defesa, Ehud Barak, de cortar completamente o fornecimento de combustível e de electricidade ao território costeiro.

Israel, que em 2005 retirou as suas tropas de ocupação e colonatos da Faixa de Gaza, manteve um controlo apertado em todas as fronteiras de Gaza, reduzindo o pequeno e populoso território a um grande campo de detenção.

Israel acelerou drasticamente o seu castigo colectivo aos habitantes de Gaza, depois da tomada da Faixa pelo Hamas em Junho de 2006. O exército israelita, que exerce uma enorme influência na política israelita, também tem vindo a fazer incursões quase diárias e ataques em Gaza, resultando daí mortes e ferimentos em centenas de palestinianos nas últimas semanas. Crê-se que o grosso das baixas é de civis inocentes.

No domingo, 20 de Janeiro, mais de 90% dos habitantes de Gaza passaram a noite às escuras, pois Israel decidiu interromper o vital fornecimento de combustíveis, ostensivamente para coagir as massas a revoltarem-se contra o Hamas, que recusa legitimar a ocupação israelita do território palestiniano.

O apagão quase total das centrais eléctricas já está a provocar efeitos catastróficos e a paralisar os serviços vitais em toda a Faixa de Gaza.

Fontes hospitalares relataram muitas mortes causadas pela paragem de fornecimento de electricidade.

“Equipamento médico alimentado a electricidade tal como incubadoras, máquinas de diálise e máquinas de respiração artificial, bem como muitos outros equipamentos que salvam vidas, já não funcionam. Isto significa a morte certa para alguns pacientes”, disse Omar al-Shawwa, um paramédico do Hospital Shifa na cidade de Gaza.

O hospital Al-Shifa é o maior hospital em Gaza e tem estado em funcionamento em estado de emergência há dois anos, já que o fornecimento de material médico vital continua a ser restringido por Israel.

“É verdade que os judeus não estão a enviar as nossas crianças para fornos, mas eles estão a matar-nos usando outros meios”, disse al-Shawwa visivelmente triste. “Talvez os europeus e os americanos não acreditem nisto, mas a verdade é que os judeus estão a fazer um verdadeiro holocausto contra o nosso povo.”

As câmaras de televisão mostraram cenas de pôr os cabelos em pé, de crianças palestinianas cuja sobrevivência depende de determinadas máquinas médicas que funcionam a electricidade. No norte de Gaza, uma criança paralisada estava entre a vida e a morte e os membros da sua família tentavam rotativamente mantê-la a respirar usando uma bomba manual de respiração.


Entretanto, oficiais palestinianos e da ONU em Gaza, alertaram para um desastre iminente que afectará todos os aspectos da vida em Gaza.

Hasan Abu Ramadan, um economista palestiniano, disse que a actual catástrofe humanitária na Faixa de Gaza irá aprofundar-se com o continuado bloqueio israelita de combustíveis e alimentos. Ele avisou que a Faixa de Gaza poderá passar de uma situação de profunda pobreza para uma de fome generalizada, doenças e má nutrição.

Abu Ramadan sublinhou que mais de 80% dos 1,5 milhões de habitantes de Gaza estão a sobreviver com a ajuda alimentar de organizações internacionais como a UNRWA [Agência das Nações Unidas para os Refugiados no Médio-Oriente].

Outro aviso urgente foi emitido por John King, dirigente das operações da UNRWA em Gaza.

Falando numa conferência de imprensa improvisada em Gaza, no domingo à noite, King apelou à comunidade internacional para intervir imediatamente de forma a prevenir que aconteça o iminente desastre humanitário

King assinalou que civis inocentes estão a pagar um preço muito alto pelo actual conflito, dizendo que as padarias estão a deixar de fazer pão e que os hospitais estavam frios desde que os geradores de electricidade pararam devido à falta de combustível.

“A ajuda médica não está disponível, o papel não estão disponível, não há cimento para fazer sepulturas, nem estão disponíveis os caixões para os mortos. Também há uma séria falta de alimentos, e os preços dos que ainda existem são muito altos.”

King disse que toda a gente em Gaza tem agora um problema que se está a exacerbar à medida que passa o tempo. Ele afirmou que era vergonhoso que nalguns círculos, numa óbvia alusão a Israel e aos seus aliados, se estejam a arranjar argumentos para a situação em Gaza.

“Não consigo descrever por palavras o que está a acontecer em Gaza.”

Entretanto, círculos de extrema-direita em Israel apelaram a que o governo israelita aniquile os habitantes de Gaza.

Em colonatos judeus na cidade de Hebron e nos seus arredores, na Cisjordânia, colonos judeus foram vistos a dançar numa aparente expressão de alegria pela tragédia em Gaza, com alguns deles a gritar em hebreu “morte aos árabes” e “árabes para as câmaras de gás”.

Ainda antes, colonos com armas automáticas atacaram palestinianos e vandalizaram as suas propriedades em Hebron, à vista de soldados israelitas ocupantes que observaram passivamente. Pelo menos 11 palestinianos foram atingidos, a maioria com pequenos cortes e feridas.

Desde o início de 2008, o exército de ocupação israelita assassinou perto de 40 palestinianos e feriu centenas, tendo muitos ficado com deficiências permanentes.

O banho de sangue de nível pornográfico levou o Relator Especial do Conselho dos Direitos Humanos da ONU sobre a situação dos Direitos Humanos nos territórios ocupados da Palestina, John Dugard, a condenar a morte indiscriminada de palestinianos por parte de Israel.

Dugard disse que Israel devia ter previsto a perda de vidas e os ferimentos provocados a muitos civis quando atingiu o edifício do Ministério do Interior em Gaza, apenas há alguns dias atrás.

As impiedosas mortes, disse Dugard, “levantam sérias questões sobre o respeito de Israel pela lei internacional e o seu empenhamento no processo de paz”.

Ele acrescentou que as atrocidades israelitas violam as estritas proibições ao castigo colectivo contidas na Quarta Convenção de Genebra.

Texto de Khalid Amayreh publicado no Palestinian Information Center a 21 de Janeiro de 2008. Traduzido por Alexandre Leite para a Tlaxcala.

http://investigandoonovoimperialismo.blogs.sapo.pt/31707.html

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