No passado sábado o país assistiu a uma das maiores manifestações das últimas décadas, levada a cabo pelos professores em protesto contra as políticas educativas do governo. Por muito que José Sócrates pretenda desvalorizar a força dos números e privilegiar aquilo que apelidou de “força da razão”, a sua acção governativa não voltará a ser a mesma. A expressão do descontentamento ficou bem patente na esmagadora manifestação protagonizada pelos professores e nem a tentativa de a reduzir a meros números, lhe retira significado.
Para além de ter sido a maior manifestação dos últimos anos em Portugal, revelou outras particularidades que a retiram da vulgaridade do protesto de rua, porque foi protagonizada por cidadãos de todos os quadrantes políticos, excedeu em muito a capacidade de mobilização das estruturas sindicais e mereceu o apoio da maioria da opinião pública. Deixou, por isso, um sinal importante que o governo, embaraçado, pretende ignorar Não deixa de ser verdade que o sentido da governação de um país não pode depender de manifestações, mas também não é menos verdade que esta forma de protesto constitui um indicador que os governos em democracia devem levar muito a sério, sobretudo porque é desta forma que em regra se inicia o declínio dos ciclos políticos. José Sócrates está confrontado com um dilema, porque se ceder aos protestos dos professores e demitir a Ministra da Educação, provocará um abalo irreversível na sua imagem de firmeza, se o não fizer, seguramente que no próximo ano irá pagar uma elevada factura eleitoral. A situação torna-se ainda mais dramática porque a via discreta da remodelação governamental, já se esgotou na resolução dos protestos contra as políticas da saúde. O colete-de-forças que agora limita o Primeiro-ministro e o seu governo foi por eles fabricado á medida, com a falta de diálogo, com a prepotência e a incapacidade de estabelecer consensos sempre necessários quando se pretendem empreender reformas de fundo. Ninguém dúvida que há muito se exigem verdadeiras reformas na educação em Portugal, mas essas reformas para serem eficazes não podem ser idealizadas hoje para entrarem em vigor amanhã, nem podem ser impostas a todo o custo, atropelando tudo e todos. Mas o estilo deste governo é este mesmo, pretende alterar tudo de um dia para o outro, de forma imponderada, sem ouvir a opinião de quem vive o dia a dia da educação, da saúde ou da justiça. O resultado são as reformas trapalhonas, que nascem logo a pedir a sua própria reforma, revelando uma ânsia cada vez mais evidente de mostrar serviço nos últimos meses de mandato e dando sinais de ansiedade próprios de quem sabe que corre cada vez mais contra o tempo, o tempo em que os Portugueses perguntarão pela obra feita, que não existe. Como já não é possível abandonar o autoritarismo e enveredar pelo diálogo será de esperar para breve que renovadas promessas eleitorais tentem apagar os resultados de uma governação autista, geradora da instabilidade económica e social em que o país se encontra atolado e de onde não dá sinais de conseguir sair.
Hél der Rebocho
http://dianafm.com/index.php?option=com_content&task=view&id=10344&Itemid=24
Sem comentários:
Enviar um comentário