A realidade, cada vez mais, necessita de passar pelo crivo dos media para existir. A Televisão e a Internet, nos nossos dias, são os meios privilegiados para essa certificação. Até para o Ministério da Educação, selectivamente distraído do que se passa no interior das escolas.
O secretário de Estado, Valter Lemos, certamente após visionar o vídeo da Escola Secundária Carolina Michaelis, descobre que os problemas da violência nas escolas vêm do exterior. Já tem novo vídeo, de uma aula de Economia, para confirmar a ideia. Não é difícil concordar com a opinião. Não consta que os alunos nasçam, residam ou pernoitem nas escolas básicas e secundárias do país.
As razões profundas e remotas do que foi um episódio grave, na Carolina Michaelis, é difícil sintetizá-las melhor do que Henrique Monteiro, no seu "post" de segunda-feira, aqui no Expresso, no "O País do Prodígios".
O que é o árido dia-a-dia de muitas escolas dificilmente colherá o interesse dos media e atingirá o estatuto de realidade certificada. O quotidiano das aulas, sobretudo no segundo e terceiro ciclos e no décimo ano, é feito desta matéria adulterada, saída de casa, que germina lentamente e que, quando menos se espera, pode explodir. É um tédio imenso em aulas de noventa minutos que se tornaram, há poucos anos, modelo universal, com a aquiescência dos professores. Quando já se sabia que o tempo de concentração dos jovens era cada vez mais limitado. O que não desculpa a indisciplina e, muito menos, a violência.
E o que acontece a todo o instante é a desatenção persistente de muitos alunos. O desassossego e irrequietude de outros tantos. A penalização sistemática dos que querem e não podem estar atentos. A consequente e constante perturbação ou interrupção das actividades lectivas. Porque há sempre guinchinhos, gritinhos, risinhos tontos, para falar no mínimo. E o professor a acudir permanentemente. A esgotar a paciência e o empenho que deviam estar ao serviço da transmissão do conhecimento.
O período que vai do nascimento à entrada na escolaridade obrigatória é crucial para o desenvolvimento da criança e para a sua harmoniosa estruturação socio-cultural. É o domínio onde os pais têm uma influência determinante e insubstituível que, de resto, devia continuar responsavelmente até ao fim da adolescência. E as crianças que perturbam as aulas, é preciso dizê-lo, foram e estão a ser mal educadas. E, com maior ou menor inépcia dos docentes, a fatia mais gorda da responsabilidade cabe aos pais.
Defendo, há muito, um investimento sério na formação de pais e encarregados de educação. As experiências das chamadas "Escolas de Pais" têm sido bem sucedidas. E hoje, entre outras iniciativas, com o envolvimento da comunicação social, poderiam ajudar a mudar o aviltante panorama do sistema educativo em Portugal. Assim houvesse vontade política e cultural.
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