Antes de ser publicado o novo regime de aposentação para os funcionários públicos o telefone do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, afecto à Fenprof (Federação Nacional de Professores), tocava várias vezes ao dia com pedidos de informação. "Recebíamos dezenas de telefonemas de professores a perguntar quando é que saía a nova lei", conta o dirigente sindical Manuel Grilo. Quando, em Fevereiro, as novas regras foram finalmente publicadas, os professores "começaram a fazer contas". E nas escolas passou a ouvir-se com mais frequência: "Estou cansado, vou-me embora."
"São professores empenhados que sentem que o seu trabalho não é reconhecido, que se aposentam por desânimo, que se queixam de uma excessiva burocratização da profissão", diz também Rita Bastos, presidente da Associação de Professores de Matemática.
São, continua Manuel Grilo, "pessoas que estão no máximo da sua capacidade de ensinar", com muita experiência, mas que preferem perder dinheiro, sujeitando-se a penalizações na pensão, a continuar a dar aulas até chegar à "idade legal" para se reformarem.
Porquê? "Tem a ver com os horários de trabalho excessivos, com problemas de indisciplina dos alunos. O discurso de que os professores não querem ser avaliados não ajuda. Os alunos dizem: "Então o senhor não quer ser avaliado e quer-nos avaliar a nós?"" - conta Manuel Grilo.
A Caixa Geral de Aposentações fez saber que não dispõe de dados que permitam analisar qual tem sido a evolução do número de professores que tem antecipado a aposentação.
Contudo, também João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (Fne), diz que os pedidos de informação sobre aposentações antecipadas que chegam aos sindicatos têm aumentado muito. Só ao Sindicato dos Professores da Zona Norte chegaram mais de cem desde Janeiro de 2007. A avaliação do desempenho e a divisão da carreira em duas categorias são as razões mais apontadas por quem se dirige aos serviços.
"Há um desgaste e muitos professores passaram a ter que trabalhar mais do que as 35 horas semanais para fazer tudo: as reuniões, os projectos para isto e para aquilo, as candidaturas a financiamentos, preparar os novos cursos de educação e formação e as visitas de estudo", para além das aulas, da correcção dos testes, da investigação, continua Dias da Silva.
O dirigente recorda que "até 2006 os professores tinham a expectativa de poder aposentar-se aos 36 anos de serviço e 60 de idade", e organizaram a sua vida em função disso. Depois, as regras mudaram "e obrigam-nos a trabalhar mais". O regime criado em Fevereiro último - que facilita a aposentação antecipada - é pois visto como uma oportunidade "e todos os sinais que nos chegam levam a crer que os professores vão usá-la mais" do que outros funcionários públicos, diz Dias da Silva.
De acordo com a lei, este ano pode pedir aposentação antes do tempo quem tiver 33 anos de serviço, independentemente da idade, sendo a pensão reduzida em 4,5 por cento por cada ano que faltar para atingir os 61 anos e seis meses de idade. A partir do próximo ano volta a haver limite de idade. Sebastiana Lopes, 58 anos, 29 de aulas, professora titular na Escola Secundária de São João da Talha (Loures), pensa entregar já em Outubro os papéis. "Não tem só a ver com as medidas que têm vindo a ser tomadas. Tem a ver com o meu próprio cansaço, com o desgaste da profissão." Já não consegue, diz, "fazer aquelas madrugadas que fazia para preparar as aulas". E sente-se mal quando não as prepara, o que às vezes acontece porque simplesmente não tem tempo, este está todo dedicado a outras tarefas.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1323926
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