há pessoas…
o espaço geográfico é pequeno e, daí, acabamos por nos conhecer todos.
e, se todos nos conhecemos, acontece que - por uma ou outra razão - sabemos do percurso de cada um.
vem isto a propósito, ou a despropósito, de que desfolhando o "público" (jornal) de 6 de março, deparamos com uma frase gasta: - "a rua não tem sempre razão."
pois.
conhecemo-nos todos, sabemos quem foram e que são… - o "autor" deste chavão que opina na penúltima página do jornal é um sociólogo. escreve numa revista sua, escreveu um livro polémico, agora transborda para a imprensa diária as suas opiniões…
a sua graça é joão freire e a sua revista "a ideia" - uma revistinha com um pormenor simbólico e engraçado; há para ali um A circundado - um signo "libertário" ao que parece (libertário = acrata = anarquista).
nada de extraordinário (escrever num jornal de referência) tendo em conta o seu (dele) percurso académico. opção (dele). opção do jornal que lhe pagará por certo as opiniões (por ele) escritas. nada temos contra. a liberdade de cada um é sagrada - em democracia, em acracia…
"a rua não tem sempre razão". disse. e mais disse: "o direito à opinião, à indignação e ao protesto são hoje irrecusáveis, mas, numa democracia as grandes decisões de orientação política tomam-se através do voto de todos os cidadãos".
é evidente que a boca se abre de espanto. a retórica espanta-nos (ele acaba de desembarcar na democracia). e espanta-nos sobretudo quando recordamos os discursos empolgados sobre o maio de 68 (do mesmo senhor em comícios e encontros anarquistas dos já distantes anos 70).
certo. tornou-se democrata. é, será natural. a idade…
mas, democrata pela metade (tendo em conta os princípios base dessa ideologia burguesa). sim, pela metade. porque a democracia não se esgota nas urnas, no voto.
a democracia - segundo os seus ideólogos (um doutorado em sociologia deve sabê-lo) - requer a participação contínua do cidadão. a democracia não prescinde, não pode, dos seus parceiros naturais (leia-se: associações, grupos formais / informais de cidadãos, sindicatos, etc.). a democracia não pode prescindir do diálogo entre pares ou estará condenada ao fracasso.
assim é. assim rezam os cânones.
mas o que é evidente é que o sr. prof. dr. joão freire (qual político demagogo) faz tábua rasa dos princípios ideológicos que ora defende, para insinuar que a classe docente é, não passa de, um grupo de arruaceiros:
- por seguidistas dos sindicatos de classe.
- porque descontentes com o belo processo (carreira docente) que tanto trabalho deu à dona lurdes.
- por só agora perceber que a escola pública é um alvo a abater por este governo tão democrático (neste ponto estamos de acordo, os docentes foram um pouco tardios… no despertar, claro).
e porquê?
para quê este discurso demagógico?
quem o encomendou?
terá sido para defender a sua dama, a sua discípula ora promovida a ministra?
para defender o projecto educativo (pai de todas as discórdias) de que é autor ou
co-autor?
é facto que, como o sr. prof. dr. joão freire diz: "os vectores mais dinâmicos e dominantes do sindicalismo são conduzidos por gente com uma iluminação ideológica e, frequentemente, com alinhamentos partidários…"
porém qualquer leitor de o "público" que leia o artigo do sr. prof. dr. joão freire (mesmo o menos atento) perceberá que o sr. prof. dr. joão freire não é - mesmo - apartidário.
ninguém o é, sr. prof. dr. joão freire. não é mesmo necessário ser-se sociólogo ou filósofo para se saber isso. todos somos partidários.
e o sr. prof. dr. joão freire poderá não ser partidário do partido "socialista" mas é um incondicional partidário (pelo que nos é dado a ler) da política do actual governo.
mais. partidário incondicional da prepotência de uma senhora que em tudo revela (tem revelado) uma carência da chamada "cultura democrática".
pois.
ainda recordamos como em tempos fomos surpreendidos com uma frase do então joão freire militante libertário; era mais ou menos isto: um possível estado anarquista seria tão mau ou pior que um estalinista…
estamos em crer que sim. também aí concordamos com o sr. prof. dr. joão freire, mas, se os anarquistas forem todos semelhantes a vossa excelência e à senhora ministra da educação actual.
in: confraria da alfarroba
http://confrariadaalfarroba.blogspot.com/
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