quinta-feira, março 13, 2008

A questão da avaliação de desempenho

Tornou-se, aparentemente, um chavão todos os professores dizerem que não são contra o modelo de avaliação que o Ministério lhes quer impor como suposta panaceia para a melhoria do Ensino, mas apenas contra o seu tempo e o seu modo.

Esta concordância ab initio denota, desde logo, uma preocupação simpática em não querer hostilizar em demasia as «forças vivas (?)» do Ministério mas eu, se fosse a eles, não comprava tão barato esse artigo.

Vejamos: desenvolvo a minha actividade numa empresa que aplica modelos (vários) de avaliação de desempenho, vai para cima de uma dúzia de anos. Qual o resultado prático, independentemente do modelo aplicado? - Nenhum! Para além da burocratice instalada e o faz-de-conta-que-isto-é-sério, que aproveita à comodidade das hierarquias e à acomodação dos subordinados. A lógica instalada é a mesma de que enferma o funcionalismo: vale mais cair em graça que ser engraçado. Conceitos de eficácia e de eficiência, bem como de competência articulada com a concelebrada inteligência emocional não passam por ali.

Neste contexto, a questão que se coloca é a seguinte: em que é que um qualquer modelo de avaliação de professores vai promover a qualidade EFECTIVA do Ensino? E como será possível estabelecer parâmetros - e quem qualificadamente os avalie - para comparação de realidades orgânicas tão diversas quanto o serão uma escola de Freixo de Espada à Cinta, uma escola de Cascais ou uma outra da Reboleira?

E em que é que estabelecer-se que, numa determinada escola, 5% dos professores correspondem a um mirífico padrão de excelência e os outros 95% nem por isso, poderá contribuir para uma melhoria objectiva dessa sagrada arte de transmitir conhecimentos aos alunos?

Dizendo de outra forma, como se medirá o nível de afabilidade de um mestre que, apesar de algumas limitações no seu domínio de conhecimento, tem artes de se fazer entender melhor e ter mais audiência e envolvimento por parte dos alunos relativamente a um seu colega, de longa cátedra suma cum laude, que promove o bocejo e assusta a criatividade?

Estas manias de que a avaliação é redentora e substituirá o mar de carências em que o Ensino - e o resto! - navega, em Portugal, apenas agradam e são sustentados por tecnocratas de pacotilha, cujo objectivo na vida é excitarem-se com números que, de uma forma cada vez mais redonda, provem e sustentem que o quadrado das suas «verdades» deixou de ter vértices e colhe ali prova.

Entretanto, a vida passa por eles, sem que se dêem conta mas, curiosamente, pula e avança!
http://sete-mares.blogspot.com/2008_03_01_archive.html#4575402339519498930

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