O que mais me surpreende na última telenovela nacional, também conhecida por "caso do telemóvel" ou "violência nas escolas", é a capacidade de multiplicação do disparate.
A direita, que aplaudiu quando Sócrates convidou a opinião pública a linchar os professores e passou os últimos anos a execrar os privilégios e o corporativismo dos madraços, descobre agora que é preciso restaurar "a autoridade" no sistema de ensino.
Como?
Oh, é simples: com um par de bofetadas na aluna.
Não ocorre a estes denodados paladinos da ordem que a solução é impossível porque o "caso" não é isolado. E não lhes ocorre porque provavelmente não põem os pés numa sala do secundário há muito tempo. Mas isso são pormenores: a direita tem sempre um inesgotável arsenal de bofetadas para dar.
A esquerda também tem culpas no cartório.
Depois de passar três décadas a explicar aos filhos dos outros que os professores são uns gajos porreiros, apenas com o inconveniente de serem um bocadinho mais velhos, que as aulas não servem para aprender matemática e ortografia, mas para formar cidadãos, e que a escola deve ser democrática, como se o ensino alguma vez fosse uma relação entre iguais, de repente descobriu que alguém levou isto tudo a sério.
Ditosa a pátria que tais filhos tem, lá dizia o... o... como é que o homem se chamava?
http://cachimbodemagritte.blogspot.com/2008/03/
ditosa-ptria-que-tais-filhos-tem.html
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