terça-feira, junho 24, 2008

Alternativas ao modelo de avaliação

Mais de meia centena de professores e pais marcaram presença, este sábado, na Associação 25 de Abril (Lisboa), para debater alternativas ao modelo de avaliação de desempenho de docentes que o governo está a implementar nas escolas. Paulo Guinote, Olga Pombo, Manuel António Silva e João Paulo Videira deram o mote para uma discussão acesa e que promete continuar em próximos fóruns organizados pelo Movimento Escola Pública.


Manuel António Silva, professor do Instituto de Psicologia e Educação da Universidade do Minho denunciou a "avaliação burocrática" defendida pelo governo e foi mais longe: "Estamos num tempo de palavras perigosas: avaliação e mérito são duas delas". Acrescentou que a "avaliação" nunca será uma ciência nem um campo autónomo, até porque "a avaliação não define as políticas" mas, pelo contrário, "são as políticas que definem a avaliação".


Olga Pombo, da Faculdade de Ciências de Lisboa, questionou a própria necessidade da avaliação: "Às vezes é muito útil sair do aquário em que nos encontramos e ter a capacidade de olhar a partir de fora: será que a avaliação tem que fazer parte do destino da escola?". Criticou ainda o facto de a escola servir cada vez menos para ensinar e cada vez mais para "tomar conta" e "avaliar".

Mas se considerarmos uma avaliação sensata, sempre dentro da "política do mal menor" ela devia começar no topo, nomeadamente nas universidades e em quem forma os professores. Por outro lado, a avaliação de desempenho dos professores deveria centrar-se na "avaliação de competências científicas", com uma componente externa, valorizando-se também os mestrados e a actualização de conhecimentos.


Paulo Guinote, autor do blogue "A Educação do Meu Umbigo", frisou que concorda com a existência de um sistema de avaliação de professores, mas não com o que o governo defende. "Este modelo está errado porque assenta na divisão artificial da carreira de professores entre titulares e não titulares ("quem chegou ao topo sem mérito é quem avalia"), porque se baseia nas quotas e porque está embrenhado numa teia burocrática portadora de uma "pseudo-objectividade".


Guinote defendeu um modelo alternativo de avaliação assente na transparência e na equidade e que se aproxima do modelo dos professores do ensino superior. No final de cada escalão, o professor defende um relatório crítico perante um júri constituído por elementos internos e externos à escola.


João Paulo Videira, da Fenprof, sublinhou que também concorda com a existência da avaliação de professores até porque "Portugal não tem consições para dizer não à avaliação". "Só uma sociedade desenvolvida, com altos índices de sucesso escolar e uma escola pública forte poderia dispensar a avaliação dos docentes".

Contudo, o sindicalista frisou que "não queremos um modelo funcionalista e quantificador" que é o que o governo deseja. "A ministra não tem um modelo de avaliação de professores, mas sim um modelo de avaliação e seriação de quadros". Acrescentou que este modelo corre o risco da ineficácia: "ao fim de três anos as fichas serão sempre preenchidas da mesma forma".

Para este dirigente do SPGL a avaliação não deve estar ligada à progressão na carreira mas sim à melhoria das práticas pedagógicas dos docentes, e qualquer modelo deve pressupor uma ideia de escola. João Paulo Videira defendeu um "modelo integrador" com uma forte componente de auto-avaliação, outra de co-avaliação (uma avaliação que parte do docente na interacção com o departamento, também avaliado) que deve ser feita por órgãos competentes da escola mas também com uma vertente externa. O modelo integrado estabelece como ponto de partida o docente, integrado com o departamento, com o conselho educativo e com a avaliação externa. Os instrumentos propostos visam permitir ao docente esclarecer as suas opções, o percurso escolhido, e a mellhoria das suas práticas pedagógicas, tendo em conta o projecto educativo da escola.

Cecília Honório, do Movimento Escola Pública, lembrou que a ideia de escola que deve preceder qualquer sistema de avaliação é aquela que promove o sucesso escolar e que se empenha na emancipação de cada aluno, como projecto colectivo, Daí que a avaliação dos professores deva ser pensada ao nível de toda a escola, num espítiro cooperativo de melhoria das práticas pedagógicas de cada docente, evitando-se a burocracia dos modelos que promovem a competição e o individualismo.
esquerda.net

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