sábado, junho 21, 2008

Aquiles e a tartaruga


Segundo o velho pensador Zenão de Eleia, num dos seus famosos paradoxos, o mais rápido corredor da Grécia, Aquiles, jamais poderia alçançar um animal tão lento como a tartaruga.

O seu argumento para tão inverosímil conclusão era o seguinte: Aquiles nunca poderia alçançar a tartaruga, porque na altura em que atingisse o ponto de onde a tartaruga partira, ela ter-se-ia deslocado para outro ponto; na altura em que alçançasse esse segundo ponto, ela ter-se-ia deslocado de novo; e assim sucessivamente ad infinitum (Kirk e Raven).

Independentemente das explicações matemáticas para semelhante paradoxo (e é verdade que matemáticos famosos lhe dedicaram a atenção), interessa-me a teoria do espaço que está aqui implícita: a de que ele é infinitamente divisível. Ou seja, entre um ponto A e um ponto B, há uma tal infinidade de pontos, de passos, de distâncias... que, no limite, não há movimento. É esse, aliás, o objectivo de Zenão: demonstrar que todo o movimento é ilusório.
O actual modelo de avaliação dos professores (ensinos básico e secundário) é de tal forma "burocratizado", implicando uma infinidade de pontos, passos, distâncias, procedimentos, normas... para chegar ao ponto B (se chamarmos assim ao ensino-aprendizagem) que se revela uma perfeita demonstração do paradoxo de Zenão: mesmo quando parece que se está a mexer, que se corre muito de um lado para o outro, o que existe, na prática, é a imobilidade.

A burocracia imobiliza o desejo. Onde medra a norma, a ética definha.

E, no entanto, para alguns, trata-se apenas de transpor o limiar do ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.
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