domingo, junho 01, 2008

Como Charles Boycott ajudou involuntariamente a criar o verbo boicotar e o método de acção directa do boicote


Charles Cunningham Boycott (12 de Março de 1832 — 19 de Junho de 1897) foi um militar britânico e um Agente de Terras de um nobre inglês, grande proprietário de terras na Irlanda, mais concretamente em Lough Mask no condado de Mayo, contra o qual foi lançada a primeira campanha de boicote registada na história. Uma campanha de ostracização pelos trabalhadores agrícolas locais que o levou à ruína e ao seu regresso à Inglaterra por motivo de ter recusado a melhoria das condições de vida e de trabalho dos trabalhadores rurais. Dessa campanha nasceu o verbo inglês Boycott, que significa colocar em ostracismo, e que originou por sua vez a palavra portuguesa boicote.

Charles Boycott nasceu em Norfolk, em 1832.A partir de 1850 serve o Exército Britânico no 39º regimento de Infantaria, Depois de se demitir do Exército, parte em 1872 para a Irlanda a fim de lá trabalhar como Agente de Terras ao serviço de Lorde Erne (John Crichton, 3o Earl Erne), grande latifundiário local. Boycott tinha também as suas próprias terras. A dada altura, os camponeses locais pedem-lhe uma redução das suas rendas. Boycott recusa e inicia processos de despejo.

É perante esta atitude que, em 1880, os trabalhadores locais, liderados por Michael Davitt, decidem abandonar as colheitas na propriedade de Lorde Erne. O movimento fazia parte da campanha da Liga Irlandesa da Terra, dirigida por Charles Stewart Parnell, para proteger os rendeiros da exploração a que são submetidos, assegurando uma renda justa, a garantia de emprego e o direito de venda livre, segundo os lemas conhecidos pelos três efes: "Three Fs" (fair rent, fixity of tenure and free sale)

Quando Charles Boycott tentou contrariar essa campanha dos rendeiros agrícolas, a Liga da Terra lançou um movimento para o isolar da comunidade local. Decidiram então que:
• Os vizinhos não lhe falariam.
• As lojas não lhe serviriam.
• Na igreja, não lhe falariam nem não se sentariam perto dele.

A campanha contra Boycott tornou-se famosa na imprensa britânica: os jornais ingleses enviaram correspondentes ao oeste de Irlanda, chamando a atenção para o que consideravam como vitimização de um empregado de um Lorde no reino pelos camponeses irlandeses.

Foi então que cinquenta "Orangemen", membros da organização protestante irlandesa "Orange Order", do Condado de Cavan viajaram à propriedade do Lorde Erne com o fim de salvar a colheita. Um regimento de 1.000 homens da organização policial "Royal Irish Constabulary" foi igualmente enviado para proteger as plantações. O certo é que todo este episódio custou ao governo britânico cerca de 10.000 Libras, para proteger as 350 Libras que valeriam a colheita de batatas, segundo a estimativa feita por Boycott.

Face a todo esta pressão, Boycott decide deixar a Irlanda no dia 1 de Dezembro de 1880, tendo o seu nome sido imortalizado com a criação do verbo "boicotar", que significa "colocar em ostracismo".

Boicotar transformou-se num método da desobediência civil e da política de não-violência.
Foi praticado, entre outros: por Mahatma Gandhi; e pelos activistas das campanhas pelos direitos civis nos Estados Unidos e na Irlanda do Norte realizadas na década de 1960

Em 1947 a história do capitão Boycott foi tema do filme "Captain Boycott".

Referências bibliográficas:
• Marlow, Joyce "Captain Boycott and the Irish", London, 1973
• Moody, Theodore W. "Davitt and Irish revolution", Oxford, 1981
• Tebrake, J. K. "Irish peasant women in revolt. The Land League years", in: "Irish Historical Studies 28" (1992), S. 63-80


Adaptação livre para português de um texto retirado da Wikipedia
http://pimentanegra.blogspot.com/

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