O prato do dia de hoje é o debate de ontem na SIC. Eu não vi, não sabia que ia haver e se soubesse não via na mesma. Só vejo uma coisa em canais nacionais: bola.
Ao que parece, um dos grandes problemas levantados é o do anonimato de quem escreve e recebe, assim, uma impunidade de caluniar quem bem entender com a verdade ou… com a mentira.
A mim continua a parecer-me o mesmo de sempre: um grupo de pessoas - que há anos e anos a fio são as mesmas, em Portugal - têm o dom da palavra. Têm o poder de publicar o que escrevem em jornais e revistas, livros, programas de rádio e televisão.
Estas pessoas são superiores a todos nós. Nós, massa sem face, opinião pública sem opinião válida, não temos direito a voz. Quando “nós”, “povo”, vamos para a rua em manifestações ou protestos, quem fala continuam a ser as mesmas pessoas de sempre: os jornalistas e comentadores. Eles é que explicam o que se passa, eles é que editam as entrevistas com os intervenientes, eles é que fazem as perguntas, eles é que escolhem o que se publica ou não publica.
Dar voz a toda essa gigantesca massa de pessoas, amordaçadas desde sempre, é uma ameaça sem precedentes para a classe dominante, para os editores, spin doctors e criadores de opinião que sempre tiveram o palco só para eles.
Miguel Sousa Tavares queixa-se que um cobarde qualquer o acusou de plágio e que depois apagou o blog onde escreveu tal acusação e desapareceu. E eu não compreendo porque é que o Miguel Sousa Tavares não encolhe os ombros e ignora o dito cobarde; porque está ele tão aborrecido com essa pessoa que o acusou, segundo ele falsamente (desconheço totalmente o caso, bem como os livros do MST), será que esta acusação teve algum impacto na sua carreira literária?
Duvido muito, porque Miguel Sousa Tavares é precisamente um dos autores que mais vejo, no dia a dia, a ser lido um pouco por todo o lado nos transportes públicos, cafés e salas de espera. As pessoas compram e lêem os livros dele.
Em contrapartida a esta situação que muito o amofinou, Sousa Tavares propõe uma coisa que me pareceu assustadora: a identificação obrigatória de todos os utilizadores da internet, junto dos seus ISPs.
Nem falemos de como isto é tecnicamente inviável por várias dezenas de razões; mas a identificação de pessoas é algo que me deixa imediatamente nervoso e me soa a extremismos políticos de diversos sabores.
Com o tempo, começa a perceber-se que as pessoas que escrevem online com regularidade e consistência são pessoas que querem ter voz, mas não a têm nos media tradicional aos quais o acesso é restrito a um punhado de iluminados que raramente muda; são pessoas que têm opiniões, comentários e críticas a fazer e querem fazê-las com liberdade e, por vezes, alguma contundência; os que vêem o seu blog como um espaço para a suas ideias, para discussões interessantes, para partilha de informação, acabam por deixar o anonimato: identificam-se, dão o nome e a cara, partilham fotos e mesmo vídeos e chegam mesmo a expor a família e os amigos.
Os anónimos existirão sempre e sempre existiram: escreviam nas paredes e não eram menos anónimos por isso. Agora escrevem em blogs e anónimos se mantêm. Têm tanta legitimidade como quaisquer outros cidadãos para se exprimir e partilhar as suas ideias e opiniões e não acredito que seja válido forçá-los a identificarem-se para que possam ser silenciados se alguém se ofender
Aos senhores estabelecidos da nossa praça: são respeitados por muitos, criticados por outros e mesmo ignorados por bastantes; deixem os bloggers em paz. Se não gostam do que lêem e ainda por cima o que lêem é falso: ignorem. Geralmente, é quando se pega num artigo de um blog e se leva para a televisão, que as coisas descambam.
Ou então… defendam-se. Desmintam, contraponham: vocês até têm mais poder: têm colunas em jornais, páginas de opinião em revistas. Porque não criam um blog? Porque não entram na comunidade? Porque não se juntam à discussão? Estão acima disso?
Já agora, o meu nome é Pedro Couto e Santos, sou de Lisboa, vivo em Almada, escrevo neste blog há nove anos; não gosto dos partidos políticos, nem da esmagadora maioria das pessoas que escrevem e comentam em jornais, rádio e televisão. Não me interessam as opiniões do Marcelo Rebelo de Sousa, estou-me nas tintas para os comentários do Nuno Rogeiro, não reconheço grande credibilidade ao que diz o Moita Flores e, sinceramente, não tenho planos para ler nenhum livro do Miguel Sousa Tavares.
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