quinta-feira, junho 05, 2008

Então o zé manda fechar uma praça durante 17 dias para uma acção publicitária duma marca automóvel???

Apresentação automóvel na Praça das Flores provoca tumultos que acabam na esquadra da polícia

A apresentação de um novo modelo da marca de automóveis Skoda arrancou ontem à tarde na Praça das Flores, em Lisboa, sob os protestos dos comerciantes e moradores da zona. Em causa está o facto de a Câmara de Lisboa ter autorizado que a organização vedasse o local durante os 17 dias do evento, condicionando o acesso automóvel e pedonal à praça, a troco de 150 mil euros e da reabilitação do jardim central.
Embora o protesto dos comerciantes conte já uma semana, os tumultos arrancaram terça-feira à noite, com dois manifestantes a serem conduzidos à esquadra da polícia por não apresentarem identificação, confirmou fonte da PSP.
Segundo os comerciantes e moradores locais, o incidente ocorreu por volta das 21h30, quando o dono da loja de óptica local, Victor Aragonez, insistiu com os seguranças do evento em atravessar a praça. "Ia a passar pelo meio do jardim, quando os seguranças apareceram e me barraram a passagem. Entretanto, já se tinham juntado pessoas a protestar, a PSP pediu reforços e os polícias acabaram por levar duas delas", conta o especialista em optometria.
Com acesso pedonal restringido e automóveis longe da vista, os comerciantes da Praça das Flores já fazem contas à vida. É que entre o montar e o desmontar do evento da Skoda passa-se cerca de um mês de "época alta" para o comércio tradicional.
"Não me falem em dinamização da Praça das Flores. Um cliente pode passar bem sem vir ao meu restaurante durante um mês, mas eu não sobrevivo sem clientes. Ainda ontem servi apenas três jantares. Se o evento avançar, tenho de fechar", protestou o dono de um estabelecimento local, Manuel Pessoa, minutos antes do arranque do evento. "As pessoas não têm onde estacionar durante o dia e não querem sequer vir meter-se na confusão", explicou.
Mas o que mais indigna os moradores é não terem sido avisados do evento antes de começarem as restrições. "Só me apercebi de tudo no dia 28 de Maio, quando começaram a vedar o estacionamento. Como é que não somos tidos nem achados numa coisa tão importante? É uma prepotência por parte da câmara", criticou Victor Aragonez.
Escassos minutos depois do início da iniciativa da Skoda já algumas dezenas de pessoas protestavam espontaneamente contra as restrições da organização. Sempre que um idoso era impedido de atravessar a praça, os ânimos exaltavam-se. Os 11 agentes da PSP e os seguranças presentes no local foram os alvos preferidos. Liberdade Duarte, 64 anos e moradora da praça, explicou porquê. "A minha mãe teve uma crise enorme quando ouviu a música dos ensaios. Tem Alzheimer e pensou que estavam a lançar bombas. E o meu neto está a estudar para entrar na faculdade e já não aguenta o barulho. É inadmissível que vendam a praça", censurou.
"O espaço público não pode ser privatizado desta maneira." Foi assim que a vereadora Helena Roseta, do movimento Cidadãos por Lisboa, qualificou ontem a decisão do vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, de ceder a Praça das Flores para um evento automóvel, vedando o acesso ao público.
Para Helena Roseta, a autarquia deveria procurar uma "solução de compromisso" que impeça o encerramento total da praça. "Vamos analisar a situação e procurar apoios na câmara para que seja convocada uma reunião de urgência para resolver a situação", garantiu Helena Roseta aos comerciantes queixosos.
A vereadora prepara-se para apresentar à câmara novas regras para a emissão de licenças de ocupação da via pública e licenças especiais de ruído. Além de um parecer positivo da junta de freguesia respectiva, Roseta quer que a decisão camarária seja afixada em edital na junta e que os cidadãos tenham dez dias para apresentar as suas reclamações.

AC
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