Quando a injustiça se torna lei, a resistência torna-se um dever! I write the verse and I find the rhyme I listen to the rhythm but the heartbeat`s mine. Por trás de uma grande fortuna está um grande crime-Honoré de Balzac. Este blog é a continuação de www.franciscotrindade.com que foi criado em 11/2000.35000 posts em 10 anos. Contacto: franciscotrindade4@gmail.com ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS
domingo, junho 22, 2008
Errar muito é desumano
Os exames nacionais aí estão de novo mas, infelizmente, a polémica com os maus enunciados também. Logo no primeiro exame, de Português do 12º ano, os alunos, os professores e as famílias ficaram baralhados com perguntas de escolha múltipla nas quais há ambiguidades. Este é um erro evidente na elaboração das provas: não é preciso ser especialista para se saber que uma prova deve ser clara e permitir respostas claras. Que se há-de pensar quando professores experientes hesitam sobre a resposta a dar e até acham que há mais do que uma alternativa aceitável? Já nem falo da TLEBS, a nova gramática que continua a ser usada em contradição com o prometido.
A avaliar pelos exames que têm saído nos últimos anos seria, de facto, uma surpresa que este ano não houvesse provas mal feitas. No ano passado, o Director do Gabinete de Avaliação Educativa (GAVE) do Ministério da Educação reconheceu culpas nos erros nas provas de Física e de Biologia, tendo os alunos sido compensados com a majoração do que fizeram nos itens restantes. Mas o responsável do GAVE, apesar de ter dado a mão à palmatória, continua no mesmo lugar e não se percebe, a avaliar pela primeira amostra deste ano, que os serviços que dirige tenham aprendido a lição. As correcções da prova de Português não saíram logo no final do exame, para esclarecimento e tranquilidade de todos. A Associação de Professores de Português não terá podido divulgar as suas correcções a tempo. E o inefável assessor de imprensa do Ministério, que é especialista em justificar o injustificável, não foi capaz de dar mais do que uma desculpa esfarrapada para o insólito atraso de dez horas.
Há também erros jurídicos associados aos exames. Lembro que, em 2006, os resultados nas provas de Física e Química do 12º ano levaram o Ministério a conceder, à margem da lei, novas oportunidades a um subconjunto de alunos. Que isso foi ilegal ficou claro, embora com insuportável atraso, dos acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal Constitucional. Muito me admira que o Ministério da Educação não tenha ainda reconhecido o erro crasso que cometeu ao violar a lei maior do país e recompensado os prejudicados. Errar é humano. Mas errar muito é desumano.
Em matéria de exames, há dois aspectos globais que são bem mais relevantes do que erros pontuais nas provas. Em primeiro lugar, toda a gente, excepto o GAVE, percebe que os exames estão, em geral, cada vez mais fáceis. Quem não sabe nada de nada pode sempre tentar a sua sorte em mal alinhavadas questões de “cruzinhas”, não precisando sequer de saber escrever. Este caminho para o abismo da ignorância tem sido denunciado por muita gente. Ainda recentemente a Sociedade Portuguesa de Matemática apontou o dedo ao facilitismo patente nas provas de aferição no básico. Mas o Presidente do GAVE, num insulto à inteligência, retorquiu dizendo que não existiam “perguntas demasiado elementares, mas sim de dificuldade diferente”. O que fazer a não ser, talvez, dar uma gargalhada?
O segundo aspecto é tão grave como o primeiro (apetece o trocadilho “tão GAVE”). Trata-se da linguagem tanto das provas como das “propostas” de correcção oficiais. É uma enormidade linguística e educativa que, num exame do 12º ano de Português, apareça uma frase como: “Para responder, escreva, na folha de respostas, o número do item, o número identificativo de cada elemento da coluna A e a letra identificativa do único elemento da coluna B que lhe corresponde”. Isto não é um exame sério do domínio da língua, é uma charada. Como fiquei sem saber para que serve este tipo de exames, fui ao sítio do GAVE: “Os exames nacionais são instrumentos de avaliação sumativa externa no Ensino Secundário. Enquadram-se num processo que contribui para a certificação das aprendizagens e competências adquiridas pelos alunos e, paralelamente, revelam-se instrumentos de enorme valia para a regulação das práticas educativas, no sentido da garantia de uma melhoria sustentada das aprendizagens.” Fiquei na mesma. Alguém me decifra o arrazoado?
http://dererummundi.blogspot.com/
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