Um crente é o cinéfilo capaz de ver o mesmo filme, todos os Domingos, durante a vida. Há casos de devoção diária, independentemente do actor, dos figurantes e da parte do corpo que o artista exiba para a plateia.
Não se julgue que a repetição embota o espírito crítico ou reduz a acuidade dos sentidos. O créu distingue a água benta da outra e vê, na hóstia consagrada, o corpo e o sangue de Jesus. No paladar e na visão a fé leva vantagem ao ateísmo.
Um indivíduo com fé é capaz de pagar em orações uma bagatela divina, louvar o ente que julga superior por o ter poupado à morte no desastre que lhe levou o filho, por lhe ter curado a doença com que escusava de o ter massacrado, por lhe ter dado o privilégio de pertencer á única religião verdadeira.
Os crentes são assim, fáceis de compor, benevolentes para com o deus que lhes coube e para os padres que vivem dele. Não toleram a apostasia, a blasfémia e a heresia porque se julgam na obrigação de defender os interesses de quem julgam omnipotente.
Um crente verdadeiro já não precisa de sacrificar um filho, como fez o palerma Abraão, basta-lhe levá-lo ao banho ritual do baptismo e, aos sete anos, entregá-lo ao padre e às catequistas. Pode nunca ser um cidadão, mas sai da igreja a recitar orações e a odiar os crentes das outras religiões e, sobretudo, os que não acreditam nas propriedades terapêuticas da confissão, penitência e eucaristia.
Em zonas tribais, em sítios onde não chega a civilização nem a polícia, deus exige aos crentes uma série de obrigações que, num país moderno, os levaria à enxovia. Mas que interessa a prática de manifestações tribais, a amputação de membros, a humilhação das mulheres e a decapitação de infiéis se deus se rebola de gozo enquanto recolhe o mel e fabrica virgens para compensar os que conseguirem transporte para o Paraíso?
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