Tenho por Matias Alves estima e admiração profissional. Mas também divergências de fundo sobre a avaliação de professores. As 12 teses que Matias Alves postou no blog Terrear merecem-me algumas discordâncias.
Tese de Matias Alves - A obrigação de uma credível e consistente formação em avaliação de professores para avaliadores e avaliados (não esquecendo que quem "faz" a formação também é a relação formadores-formandos).
Crítica minha - Pois é, mas isso já não é possível porque a avaliação de desempenho começou antes da formação em avaliação de professores. A pressa e o voluntarismo da equipa do ME deitaram tudo a perder. Agora, andam a tentar remendar a situação com acções de formação feitas à pressa, no mês de Julho.
Tese de Matias Alves - O número de parâmetros deve poder ser substancialmente reduzido, devendo definir-se um número mínimo e permitir-se que as escolas escolham mais um nº y, em função do seu projecto e dinâmica.
Crítica minha - Isso seria piorar as coisas. Num sistema de ensino como o nosso, em que todos os professores concorrem entre si, obedecem a uma estatuto único e têm um patrão comum, o ME, deixar que as escolas, ou seja os directores, definam o número de parâmetros a avaliar seria introduzir maiores injustiças e desigualdades. A autonomia das escolas não passa por aí; passa sim por serem dotadas de maior liberdade organizativa e curricular.
Tese de Matias Alves - Os indicadores prescritos nas grelhas aprovadas devem ser dispensáveis podendo haver outros referentes mais globais e holísticos (as próprias grelhas são hoje mais um obstáculo do que uma ajuda, devendo ser abolido o seu uso obrigatório).
Crítica minha - Concordaria com Matias Alves se ele tivesse dito: "não há grelhas nem fichas impostas pelo ME, porque são desnecessárias". Defendo que a avaliação dos professores não deve ser feita por pares porque tal coisa desvia os professores da sua missão: ensinar. Então, como avaliar os professores? O processo de avaliação dos professores deveria ser incluído no processo de avaliação externa das escolas.
Tese de Matias Alves - A vantagem formadora de uma avaliação realizada por pares. Mas, para além da formação indispensável, é necessário gerar condições de confiança e caminhar no sentido de evitar que os avaliados sejam mais qualificados e competentes que os avaliadores.
Crítica minha - Não é possível gerar confiança numa avaliação feita por pares. É até errado falar-se em pares. Os directores não são pares dos professores. Oponho-me a que a avaliação dos professores seja feita pelos coordenadores de departamento porque tal coisa desvia os professors da sua missão: ensinar. Além do mais, cria situações de dependência que favorecem o silenciamento da liberdade de expressão nas escolas.
Tese de Matias Alves - O número de aulas a observar deve ser acordado entre avaliador e avaliado, em função de critérios a definir pelo conselho pedagógico da escola ou agrupamento (subentendo-se que pode haver circunstâncias em que não faça sentido a sua existência, como o Conselho Pedagógico deveria poder decidir.
Crítica minha - Se esta tese de Matias Alves fosse aceite, criar-se-ia uma enorme confusão nas escolas e a desigualdade e injustiça aumentariam exponencialmente. Considero que o recurso à assistência a aulas só deve fazer-se em duas circunstâncias: a pedido do avaliado ou para justificar as menções de Muito Bom e de Excelente. Em qualquer dos casos, a assistência às aulas deverá ser feita por personalidades externas à escola integradas no painel de avaliação externa da escola.
http://www.professoresramiromarques.blogspot.com/
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