Gosto muito do que faço e só trocava isto por fazer coisa nenhuma.
É um sonho antigo: ser pago para não fazer nada ou, melhor ainda, ser pago por não fazer nada.
Mas enquanto esse sonho não se concretiza, tenho que trabalhar.
Em média, são 45 horas por semana, mas há semanas piores, em que posso chegar às 62 horas semanais.
Cada vez que isso me acontecia, ficava ligeiramente preocupado. Trabalhar mais de 48 horas por semana é ilegal e não me apetecia nada, depois de tanto trabalho, ainda levar com uma multa em cima.
Agora, estou mais descansado.
O Conselho Europeu dos ministros do Trabalho e dos Assuntos Sociais aprovou uma directiva que permite aos estados membros alargar o limite do horário semanal de trabalho até às 65 horas!
A luta de gerações de trabalhadores, que pugnaram pelo fim do trabalho escravo do sol-a-sol, foi toda por água abaixo.
A partir de agora, nada pode impedir os patrões de exigirem serões aos seus trabalhadores.
No tempo da ditadura, a propaganda do regime inventou uma coisa chamada Serões para Trabalhadores, que era assim uma espécie de espectáculos de variedades, organizado pela FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho) e que se destinavam a entreter as famílias (já repararam como as coisas tinham nomes sinistros, no tempo da Outra Senhora?…)
Agora, com 65 horas semanais de trabalho, os serões para trabalhadores transformar-se-ão em outra variedade de espectáculo: trabalhar mais pelo mesmo ordenado.
Obrigado, União Europeia!
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