Desde 1978 que não se verificava uma greve de jornalistas no Reino Unido mas, 30 anos depois, aconteceu sob os auspícios do governo trabalhista liderado por Gordon Brown, o “herdeiro” de Tony Blair.
Os jornalistas da imprensa local de York paralisaram durante 5 dias, de 22 a 26 de Maio.
Os jornalistas de York celebraram um acordo salarial em 2006, negociado com base numa taxa da inflação que, não contabilizando as hipotecas, resultaria em 2008 num aumento de 4,25%. O patrão da imprensa local, a Newsquest York, propôs 3%. Ora, no Reino Unido, a inflação em relação ao custo da habitação subiu 6,6%, em relação à alimentação 7,2%, e em relação à energia 15%. Ao mesmo tempo que, de maneira avara, argumenta com o NUJ – National Union of Journalists –, o presidente da Newsquest York, Paul Davidson, em 2007 recebeu 1,1 milhões de libras em salários, prémios e outros “incentivos” e vive numa mansão em Surrey, uma das localidades mais ricas do Reino Unido. Isto, enquanto um jornalista estagiário da empresa que gere tem que sobreviver com 13.500 libras por ano e o salário dos restantes jornalistas é de 22.500 libras por ano, mesmo nos casos de pessoas com décadas de trabalho na empresa.
A Newsquest York, propriedade da estado-unidense Gannet Corporation, detentora do jornal USA Today, arrecadou 4,3 milhões de libras em 2007 e a Gannet Corporation, como se pode ler no respectivo Website, entre o dia 1 de Janeiro e 4 de Maio de 2008 já realizou 2,3 mil milhões de dólares, ou seja 18.531.936 dólares por dia.
SOLIDARIEDADE
A greve contou com o apoio de lojistas da Cidade de York que forneceram alimentos aos membros dos piquetes, bandas rock que actuaram para angariar fundos de apoio aos grevistas, trabalhadores do município de York, vereadores, deputados e professores da Universidade de York.
Durante a greve, os piquetes recolheram assinaturas em defesa de salários justos para todos e o último dia de greve foi marcado com uma manifestação em York, onde os jornalistas declararam que esta greve era a primeira de muitas outras acções de luta e cuja palavra de ordem foi: «O que queremos? Salários justos! Quando os queremos? Agora!».
JORNALISTAS VÍTIMAS DOS PAPARAZZI DA POLÍCIA
Perante as acções de protesto dos jornalistas britânicos por todo o país, com a greve em York e as manifestações em Londres, a Metropolitan Police Forward Team (FIT) começou a fotografar e a filmar os jornalistas, especialmente os fotógrafos, levando o Secretário Geral do National Union of Journalists a escrever para o Home Secretary, Jacqui Smith, assinalando que «a rotina de apontar deliberadamente fotógrafos e outros jornalistas por parte da FIT mina a liberdade de imprensa e pode servir para intimidar os fotógrafos que tentam exercer o seu trabalho legal e para pôr em causa o direito dos fotógrafos trabalharem livres de ameaças, assédio policial e de quaisquer outras formas de intimidação».
Na comunicação social portuguesa, da luta dos jornalistas britânicos por salários decentes e pela liberdade de imprensa nem se ouviu falar, apesar de se poder pensar, ingenuamente vejo eu agora, que por uma questão de solidariedade profissional com os seus companheiros de profissão do lado de lá do canal até fariam uma referência aos acontecimentos.
Mas não. Os critérios “jornalísticos” em uso não parecem contemplar jornalistas em greve.
Pina Gonçalves
http://www.infoalternativa.org/midia/midia097.htm
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