«Portugal era auto-suficiente em azeite. Hoje, importamos 50% do azeite que consumimos. É incrível como chegámos a esta situação.»
Jaime Silva, ministro da Agricultura, entrevista ao Diário de Notícias (8/06/08).
Verdadeiramente, o que é incrível é um político, actual ministro da Agricultura e ex-técnico do mesmo Ministério, vir dizer, agora, e com um desconcertante à-vontade, que é inacreditável termos passado da situação de auto-suficiência para a situação de dependência. Uma acusação destas deveria ser considerada uma acusação gravíssima, porque está a dizer uma de duas coisas: ou existiu manifesta incompetência ou existiu manifesta incúria dos responsáveis que permitiram que se chegasse a este ponto. Mas não, este ministro faz esta afirmação com a maior irresponsabilidade política que se pode imaginar, porque, quando perguntado se com essa afirmação está a fazer um libelo acusatório aos sucessivos governos deste país, responde, com desfaçatez, que «somos todos responsáveis», não se esquecendo de acrescentar que «os técnicos do Ministério da Agricultura talvez sejam os menos responsáveis» (obviamente, ele era, à época, técnico da casa).
Este ministro acusa, depois já não acusa, porque dizer que todos são culpados é o mesmo que dizer ninguém é culpado, e culmina com o despudor de afirmar: eu é que não sou culpado.
Este é o mesmo ministro que, há uns meses, aconselhou os pescadores a requererem a saída de Portugal da União Europeia, se continuassem a protestar contra a redução das quotas de pesca.
Este é o mesmo ministro que, no final da entrevista ao DN, afirma: «[a ministra da] Educação está a fazer um trabalho magnífico, que nunca foi feito neste país».
De tudo isto, torna-se evidente que Jaime Silva acumula irresponsabilidade política, arrogância política e ignorância política. Três em um.
Segundo a lei de Gresham, há já algum tempo invocada, num outro contexto, pelo actual Presidente da República, a má moeda expulsa a boa moeda. É notório que essa lei continua em vigor no nosso país: os maus políticos continuam a dominar a seu bel-prazer.
Todavia estes políticos e esta forma de fazer política têm de ser punidos. Têm de ser punidos social e eleitoralmente.
Ao estado a que isto chegou, pôr termo a esta situação deixou de ser um mero combate político, passou a ser um imperativo cívico.
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