domingo, junho 01, 2008

Pontapés na ciência

O Guardian publicou uma interessante notícia sobre um estudo publicado na revista Science, conduzido por Paola Sapienza, da Universidade de Northwestern (EUA). Segundo este estudo, os resultados que mostram que as estudantes do sexo feminino são piores a matemática do que as suas contrapartes masculinas devem-se a diferenças culturais e não à natureza. Em sociedades mais igualitárias, as estudantes têm resultados quase tão bons a matemática quanto os estudantes.

E eu não acredito nesta ciência. Porquê? Porque me parece ideologicamente motivada, para conduzir precisamente à conclusão que a investigadora queria desde o início: segundo as suas próprias palavras, “A nossa investigação mostra que em sociedades com maior igualdade sexual as raparigas ganham uma vantagem absoluta em relação aos rapazes” (itálico meu). E a mesma investigação que “provou” que as raparigas afinal são tão boas a matemática quanto os rapazes, não fosse a infeliz discriminação, não se incomodou em mostrar que os rapazes são tão bons quanto as raparigas na leitura, em sociedades com menos preconceitos machistas contra a leitura. Efectivamente, os estudos comparativos mostram sistematicamente que as raparigas sabem ler melhor do que os rapazes — mas ninguém tenta mostrar que esta diferença se deve também à cultura. Neste caso, como são as raparigas que são vistas como “superiores”, não é politicamente incorrecto aceitar os resultados tranquilamente.

Isto é tudo patranha. E da grande. É ciência ideológica, ciência politicamente correcta, ciência baseada numa mentira política. E baseia-se também numa confusão filosófica infantil: a confusão de pensar que, se acaso for verdade que os homens são melhores do que as mulheres em matemática, se segue algo de negativo para a sociedade. Na verdade, nada se segue, pois a melhor das matemáticas será sempre muitíssimo melhor do que a média dos homens a fazer matemática, tal como a mais rápida das atletas femininas de fundo corre muitíssimo mais depressa do que a média dos homens, ainda que o mais rápido dos atletas masculinos seja mais rápido do que a mais rápida das atletas femininas.

O que de mais negativo se segue para a sociedade não é o facto de as mulheres serem ou não menos dotadas naturalmente para a matemática. O que de mais negativo se segue para a sociedade é a investigação da verdade ser atropelada para se fingir que se demonstra o que é politicamente correcto demonstrar. Os maiores horrores da humanidade sempre se cometeram quando algumas pessoas fingiam já saber a verdade e tudo distorciam para depois a “provar cientificamente”. Que isto hoje se faça tranquilamente em universidades prestigiadas e se publique estas patranhas em revistas pretensamente de qualidade é um sinal dos tempos orwellianos em que vivemos, e no qual os políticos nem sequer têm de encomendar os resultados fingidos que querem às universidades: estas encarregam-se de os fazer, mesmo sem ninguém lhos pedir.
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