Realizou-se no domingo passado, no teatro da Comuna em Lisboa, um encontro de trabalhadores precários, promovido pelos Precários Inflexíveis, sob o lema: “Não há acordo para a precariedade”. Respondeu à chamada meia centena de pessoas, na sua maioria jovens, de diferentes áreas laborais e inseridos em diferentes tipos de plataformas de acção política e sindical.
Os Precários Inflexíveis apresentam-se em manifesto como uma organização “de precári@s no emprego e na vida”. São, pode ler-se ainda no referido manifesto, operadores de call-center, estagiários, desempregados, trabalhadores a recibos verdes, imigrantes, intermitentes, estudantes-trabalhadores. Da flexi-seguranca dizem que “o ‘flexi’ é para eles e a ‘segurança’ é só para os patrões; e prometem não esquecer as condições a que os remetem e, com a mesma força com que os atacam os patrões, responderem com a luta. Afinal, concluem: “somos muito mais do que eles.”
No debate foi consensual que o actual modelo capitalista ataca os direitos dos trabalhadores, sujeitando-os a uma progressiva precarização dos diferentes capítulos da vida.
Não faltam ferramentas aos patrões para transformar os trabalhadores numa mercadoria cada vez mais avulsa e descartável. Ele é os falsos recibos verdes, ele é a legalização do trabalho precário pretendida pelo actual governo, é as avenças com tectos salariais mas sem tectos para as horas passadas no chão do local de trabalho, é o exército de desempregados que leva uma geração inteira de trabalhadores a aceitar trabalho sem quaisquer direitos mas cheio de obrigações – como é exemplo o pagamento de impostos elevados e da segurança social para rendimentos inferiores a dez mil euros por ano em contraste com as grandes empresas e as grandes remunerações que continuam, impunemente, sem pagar.
Os precários, duas vezes precários quando são estudantes ou jovens à procura do primeiro emprego, três vezes precários quando são bolseiros de investigação ou desempregados de longa duração, quatro vezes precários quando são intermitentes do espectáculo ou contratados a prazo, seis, sete e oito vezes precários quando a tudo isto somam o facto de serem imigrantes, dão um caldo de gente que cada vez mais sente a necessidade de tomar nas suas mãos a luta pelos seus direitos. Estes, e todos os que, vivendo do seu trabalho, encontram no Estado o melhor amigo do patrão – fornecendo-lhe todas as leis necessárias para legalizar a sobre-exploração – começam a organizar-se e assim a dar resposta ao vazio deixado pela inércia ou falta de vontade das tradicionais organizações políticas e sindicais.
Do encontro surgiram propostas concretas para a acção que passam pelo alargamento da rede de organizações que lutam contra a degradação do trabalho e da vida; bem como pela tentativa de abertura de trabalho sindical dentro das empresas em colaboração com os sindicatos que apresentem combatividade, ou autonomamente quando os sindicatos andarem apenas preocupados com a concertação social.
Para lá do debate político e do cruzamento de propostas de acção houve ainda tempo para o lançamento do Livro da Selva e de uma performance satírica aos principais governantes do país: Cavaco, Sócrates e o ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva.
Um encontro de saudar e a repetir.
Mais informações no blog: precariosinflexiveis.blogspot.com
http://www.jornalmudardevida.net/?p=1047
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