As surpresas da crise têm deixado tontos analistas econômicos de várias tendências. Alguns convivem angustiados com a inflação, outros vaticinam uma deflação mundial como o verdadeiro Nosferatu da crise. Esquecem, ou não enxergam, que inflação e deflação são formas de manifestação da crise(1), e que o deslocamento para um lado ou para o outro, vai depender das circunstâncias. Se olharmos como a crise vem se desenrolando nos EUA, veremos isso com mais clareza.
No estouro da bolha imobiliária, um setor inteiro, talvez o mais importante da economia americana, entra em deflação com desabamento dos preços dos imóveis em geral. Segue-se a queda dos preços de ativos financeiros a eles relacionados, negociados nos mercados em todo mundo. Parte do capital que consegue se safar de virar pó, foge para ativos reais, já que os papéis de toda espécie apresentam-se altamente inflamável ao menor atrito na economia.
E um desses ativos mais seguro é o ouro, que como outros metais preciosos não derretem fácil às altas temperaturas da crise. O ouro que volta a cena com todo esplendor, ameaça a assumir o papel de equivalente geral no mundo das mercadorias com a fraqueza do dólar. Capitaneia commoditieis metálicas em seu salto para o além, que já vinham com preços acelerados pela demanda aquecida.
Mas, como forma mais acabada da mercadoria-dinheiro, o ouro, e também seus pares metálicos, não brilham em quantidade suficiente para o capital que corre solto em busca de garantias. Brota então o ouro negro para reforçar a bolha das commoditieis. Como ainda sobra dinheiro inseguro de sua função, e dessa vez não é possível guardar dólar em baixo dos colchões pela rápida desvalorização do mesmo, aposta-se nas commodities agrícolas. Sai daí a inflação de outros setores da economia.
Mas se parte da população mundial deixar de se alimentar, os abastados não encherem os tanques de seus carros bebedores de gasolina e álcool na velocidade em que faziam, os impulsivos consumistas não comprarem objetos de pouca utilidade que só poluem e evenenam o planeta, vai sobrar mercadoria e os preços podem desabar. E então, a outra face da crise, a deflação, pode se manifestar com força.
Esses espasmos que fazem o capitalismo em crise e seus agentes contorcerem-se de dor, parecem querer mostrar os limites a que estar sujeito a acumulação real na terceira revolução industrial. O fogaréu que consome o capital fictício, ora com a intensificação da inflação, ora com a deflação em países diferentes, ou em setores diferentes de um mesmo país, pode chamuscar os bolsos fartos de alguns e jogar na miséria e na fome multidões de Continentes inteiros.
Se no horizonte não surgir à possibilidade de uma bolha de longa duração, pois a bolha das commodities pode rapidamente se desfazer, e pouco restar do capital fictício das que estouraram, deve predominar mundialmente a deflação. Neste cenário, Estados endividados entrarão em colapso e não haverá outra saída se não a impressão de moedas sem lastro, que pode levar a hiperinflação, sem, no entanto, impedir a queda relativa dos preços.
Essa forma de inflação, velha conhecida dos países do terceiro mundo, em particular dos brasileiros, funciona como um tributo perverso que transfere renda dos mais pobres para financiar os gastos do Estado e das camadas mais ricas da população, muitas das quais só sobrevivem na sombra estatal.
(1)O beco sem saída da economia americana
Rall
http://rumoresdacrise.blogspot.com/
Sem comentários:
Enviar um comentário