domingo, julho 06, 2008

Morrer no Afeganistão

No Afeganistão sucedem-se os ataques aéreos e terrestres das tropas de ocupação contra localidades e alvos civis e militares. Nos últimos 12 meses cada vez mais mulheres e crianças têm sido assassinadas pelos bombardeamentos da aviação militar estrangeira.

Mas as acções da resistência são cada vez mais espectaculares e ousadas. O professor de Ciências Políticas Martin Baraki explica numa entrevista ao órgão do Partido Comunista Alemão, Unsere Zeit (20.06.09), que a libertação de quase um milhar de presos políticos e de resistentes afegãos da prisão de Kandahar não teria sido possível sem a colaboração da guarnição militar responsável pela sua protecção. Aquele politólogo afegão relata ainda como Karsai, os seus seguranças, diplomatas estrangeiros e seis generais da NATO tiveram de fugir em pânico face ao ataque de um comando de seis resistentes afegãos durante uma parada militar. Baraki explica que os soldados do chamado exército afegão não têm direito a usar munições, pois Karsai, os seus ministros e as tropas estrangeiras não confiam neles. Convém não esquecer que metade dos ministros “afegãos” são cidadãos estrangeiros membros de partidos políticos das potências ocupantes. O exército e as chamadas forças de segurança afegãs são apenas uma encenação para dar a impressão de que a NATO não está sozinha nas suas missões de morte e na perpetração dos massacres. Se na rua perguntarmos a alguém quem governa o Afeganistão – prossegue Baraki – a resposta mais frequente será: “o embaixador americano”. E se pronunciarmos o nome de Karsai, as pessoas pensam que é “o presidente da câmara de Cabul”.

Esta construção artificial inventada pela Alemanha e os Estados Unidos nas margens do Reno, em Petersberg, tem direito a “Constituição” e tudo. Como se o regime que dá cobertura à ocupação militar imperialista fosse uma coisa a sério resultante da vontade do povo afegão.

Face a uma situação sem qualquer hipótese de solução, as potências da NATO só podem escolher entre entregar o país aos afegãos ou então, à sombra do teatro de marionetas de Karsai, intensificar a escalada da agressão, o que está a reforçar a resistência popular de Norte a Sul do país. Nem Cabul, onde se concentram os maiores contingentes militares estrangeiros, oferece já a mínima segurança aos ocupantes. Em comparação com o ano passado, só até Abril deste ano, os ataques contra as forças de ocupação já tinham aumentado em 40%. Canadianos, ingleses, alemães, americanos e holandeses são as nacionalidades com o maior número de baixas mortais.

A Câmara dos Representantes e o Senado norte-americanos acabam de aprovar mais 162 mil milhões de dólares para o prosseguimento da guerra no Iraque e no Afeganistão sem qualquer exigência de redução ou de regresso dos contingentes militares. Desde o início da agressão, os Estados Unidos já gastaram oficialmente 850 mil milhões de dólares (650 no Iraque e 200 no Afeganistão), mas a despesa real eleva-se a mais de um bilião.

É sintomático que Charles Black, conselheiro eleitoral do candidato republicano John McCain, tenha afirmado que «um novo ataque terrorista como o do 11 de Setembro seria bom para o candidato presidencial republicano» (ZDF, 26.06.08). Mas a Alemanha prepara também o aumento inconstitucional do seu contingente militar no Hindukuch de 3500 para 4500 soldados. Ignorando as lições da história, e contra a vontade de 80% do povo alemão, o governo de Merkel e a social-democracia alemã optaram por deixar a juventude do seu país morrer no Afeganistão.
Rui Paz
http://www.infoalternativa.org/mundo/mundo297.htm

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