quinta-feira, julho 10, 2008

O Alfredo paga tudo


Escrevi em 2006, na revista Dia D, do jornal Público, que «os portugueses vão pagando tudo: pagam o crescimento das grandes empresas, por vontade do ministro Manuel Pinho; pagam os aeroportos, por decisão do ministro Mário Lino; pagam os planos tecnológicos, por fantasia do primeiro-ministro; pagam a manutenção de colecções privadas em Portugal, por pressão dos próprios coleccionadores; e pagam auto-estradas sem portagens, por filosofia do desenvolvimento. Só ainda não pagam, mas ainda temos muitas reformas pela frente, o Sol que espreita».
Bom, com a subida dos preços dos combustíveis, parece que já estamos a pagar o Sol que espreita. É assim que vejo os ene incentivos a «energias alternativas».
Mas se há especulação no petróleo, não há menos especulação no mercado de produtos que permitem a utilização do Sol, do vento ou de qualquer outra dádiva caracterizada como «energia limpa».
Por exemplo, imagino que os painéis solares já tenham o seu preço fixado com base nos incríveis subsídios públicos ou benefícios fiscais.
O Alfredo, homem frugal, que toma banho de água fria e aquece o jantar esfregando o prato nas calças de flanela, paga agora os painéis solares que Vítor instalou na fábrica ao abrigo de um plano formidável que garante recompensa a curto prazo. Sendo certo que o Alfredo já andava a pagar as auto-estradas que estão abertas para os camiões que fornecem o Vítor. E também pagou a plástica da mulher do Vítor, que apareceu nas contas da empresa como «recauchutagem dos pneus da Transit».
O Alfredo paga tudo – pobre homem – mas nunca pensou ter de pagar o Sol. Menos ainda com a desculpa da especulação no petróleo, que também serve para alimentar a especulação nas energias limpas.
http://lobi.blogs.sapo.pt/

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