terça-feira, julho 15, 2008

O "tuga"

É clarinha como água a magnífica crónica de Baptista Bastos de hoje no Jornal de Negócios. Faz falta uma análise séria ao conformismo português. Ao modo de ser e estar. Como pensa? Que espera? Quem é?
Era bom que o debate se recentrasse um pouco neste ponto! Quanto mais não fosse para que saibamos o que poderemos ser! Sem este conhecimento de base, real, como em tantas outras coisas, tudo o que corra a jusante mais não é que ficção! Contos de fadas! E as surpresas acontecem ao virar de cada esquina. É que ignorando as capacidades, as aptidões as aspirações, numa palavra, o ser tuga, tudo quanto se construa/cogite não passa de miragem.
Sabe pouco de si próprio, o português médio. O português médio deixou de ser povo; transformou-se em população. Assim como o conceito de comunidade se converteu na noção de sociedade, mais consentânea com a ligeireza dos tempos e a futilidade de quem estatui estas coisas.
Não é, somente, um problema de se conhecer o idioma: sim uma espécie de oligofrenia que, devastadora, está a fazer do português médio um ser abúlico. De vez em vez, quando lhe tocam no ordenado ou ameaçam tripudiar sobre os seus direitos mais elementares, o português médio rebela-se. É sol de pouca dura, porque os seus protestos não possuem substância "política", são meras irritações "sociais." O português médio está "portugalizado"; quer-se dizer: faz que anda mas não anda. Perdeu alguma coisa daquela energia vital que, em tempos, fez de um território uma nação e de uma nação um testemunho moral e uma evidência medular.
Subserviente, o português médio perdeu, no camaleonismo, a grandeza que o fazia inventar, e a ousadia que era outra forma de identificação própria. Não lê, não estuda, não reflecte, não actua em função do conhecimento das coisas e da vida, sim impulsionado por emoções extremamente frágeis. O videirismo é a filosofia do momento. A ausência de carácter, uma permanência avassaladora. E estas ruínas morais são apadrinhadas pelos poderes fácticos, entre os quais os da Imprensa, das rádios e das televisões. É perigoso generalizar (eu sei); porém, ignorar a extensão da desvergonha configura uma abjecta cumplicidade.
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