quinta-feira, julho 03, 2008

A Razão dos Contribuintes


Contribuir
v. int., concorrer para a realização de determinado fim; cooperar; colaborar; ajudar; ter parte num resultado ou numa despesa comum; pagar contribuições.

É curioso ver como o significado desta definição aponta subliminarmente para o livre arbítrio. Cooperar, colaborar ou ajudar é algo que depende da exclusivamente nossa vontade não sendo de todo obrigatório que sejamos obrigados a fazê-lo. São estas mariquices de linguagem que me chateiam porque, na realidade, enquanto contribuinte, sou obrigado a largar mais de metade do que ganho para alimentar uma chusma de inúteis. Ninguém me pergunta se quero ajudar os gajos que andam a mamar do subsídio de desemprego; ninguém me pede se quero ajudar os funcionários públicos que se arrastam penosamente atrás de um balcão qualquer; ninguém me pergunta se quero colaborar com os devaneios da vaidade (e não só) desse proto-engenheiro do Sócrates quando o gajo decide fazer aeroportos desnecessários. A mim, como contribuinte, ninguém me pergunta nada nem deixa nada ao meu livre arbítrio. Sou obrigado a pagar, rapidamente, sem levantar muito a voz e dentro do prazo. Caso contrário o Estado dá-se ao direito de me levar o carro, a casa e tudo aquilo que se possa agarrar. Isto porque, em Portugal, enquanto contribuintes temos imensos deveres e pouquíssimos direitos. Exactamente o contrário do que acontece com o Estado, que tem o direito de exigir tudo e o dever de providenciar quase nada.

Por isso mesmo acho que não podemos continuar a ser considerados contribuintes, porque de facto não estamos a contribuir. Eu tenho a certeza que em nada contribuí para o estado a que este país chegou. Contribuí muito, ao longo de muitos anos, mas não foi para isto. Chamem-nos então outra coisa, que não contribuintes. Chamem-nos putas. Dez milhões de putas que todos os dias são obrigadas a dar mais de metade do que ganham para alimentar essa chula gorda que é o Estado português.
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