quarta-feira, julho 09, 2008

Terroristas e revolucionários

Nelson Mandela era terrorista?
Para os Estados Unidos era, até à semana passada.
A Frente Armada Revolucionária da Colômbia (FARC) é uma organização revolucionária?
Para o Partido Comunista Português, continua a ser.
Dito isto, que é absurdo, passo a explicar:
Nelson Mandela era o líder do ANC (Congresso Nacional Africano) que, durante anos, lutou contra o apartheid, na África do Sul. Essa luta não se fez só a nível político; teve, também, uma vertente de luta armada, de atentados bombistas, de assassinatos. Foi numa acção armada que Mandela foi preso e condenado a prisão perpétua. Por esse motivo, o Pentágono colocou o ANC na lista das organizações terroristas.
O resto da história é conhecido. O apartheid acabou, Mandela foi libertado e eleito presidente da África do Sul, o ANC também ganhou as eleições. Mas, para os Estados Unidos, o ANC continuou a ser uma organização terrorista e Mandela, um perigoso terrorista. Sempre que um ministro ou qualquer outro representante do governo sul africano pretendia deslocar-se aos States, só o podia fazer se fosse a alguma reunião da ONU porque se quisesse, por exemplo, ir à Disneylândia com os filhos, era muito provável que não conseguisse o visto de entrada nos EUA.
Esta semana, o assunto foi resolvido. O Congresso, finalmente, aprovou, por unanimidade (também era melhor…) a retirada do ANC da lista de organizações terroristas.
Mais vale tarde do que nunca.
Quanto às FARC, toda a gente sabe que pouco têm a ver com as organizações revolucionárias dos anos 60, tão características da América Latina, de inspiração Guevariana: Tupamaros, Sandinistas, Sendero Luminoso…
Há muito tempo que as FARC são um exército ao serviço do narcotráfico e pouco ou nada têm a ver com ideologias revolucionárias (a menos que se considere revolucionário distribuir coca pelos filhos dos capitalistas, para assim acabar com essa praga que esmaga a classe operária, os soldados e os marinheiros, os pescadores e os camponeses…).
Quem não ficou satisfeito com a libertação de Ingrid Betencourt? Foi com a ajuda dos serviços secretos israelitas e norte-americanos? E qual é o problema?
Na Assembleia da República, todos os partidos votaram a favor de uma moção que felicitava a libertação de Ingrid Betencourt. O PCP votou contra.
Os funcionários do PCP, que continuam a classificar as FARC como revolucionárias, deviam juntar-se aos congressistas norte-americanos que, durante todos estes anos, consideraram Mandela um terrorista.
Depois, todos juntos, podiam ir à merda.
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