sábado, agosto 30, 2008

A Escola da Burocracia

Portugal tem seguramente uma das piores escolas públicas do mundo ocidental, em termos de aproveitamento, e não é por culpa dos professores e outros profissionais que trabalham nas escolas, mas sim dos sucessivos governos que nesta área só têm mostrado incompetência e vocação burocrática e centralizadora.
Dos trinta titulares da pasta, que ao longo de 35 anos têm ocupado lugar no governo, não conheço nenhum que tenha deixado um trabalho digno de nota.
Em Portugal gasta-se mais com o Ensino do que no resto da Europa, mas essas verbas não são despendidas com as escolas, nem com o seu pessoal, o equipamento e os materiais pedagógicos, mas sim com os despesismos burocráticos do ministério.
A diarreia de papelada que é despejada diariamente nas escolas, repartida por leis, decretos, despachos, directivas, regulamentos, pareceres, formulários, grelhas, relatórios, registos, etc., etc., custa muito caro, pois é preciso pagar à monstruosa máquina burocrática ao serviço do ministério, composta por um exército de legistas e os seus escritórios, assessores, informáticos e suas empresas, pedagogos, cientistas da educação, psicólogos, ideólogos, especialistas, e burocratas de toda a espécie.
Diz-se mesmo que a pesada máquina da 5 de Outubro compete em excesso de pessoal com a Câmara Municipal de Lisboa. São tantos que ninguém os consegue contar.
As medidas demagógicas deste ministério nada contribuem para o sucesso dos alunos nem para o melhoramento do ensino, e muito menos para a valorização e boa imagem da escola portuguesa e de Portugal além fronteiras.
Estas pseudo reformas visam cada vez mais transformar os docentes em meros burocratas a tempo inteiro, privando-os de tempo suficiente para preparar as aulas e não lhe deixando espaço para ler obras necessárias à sua formação ou à actualização dos seus conhecimentos.
Segundo alguns observadores mais atentos esta burocracia destina-se simplesmente a lançar a confusão nas escolas, criando mais indisciplina nos alunos e preparando os docentes mais antigos para o abandono da profissão, através de reformas antecipadas, de forma a abrir caminho aos privados, cujo apetite já se vislumbra na aceleração da construção e abertura de escolas privadas.
De facto, nunca percebi por que é que os docentes portugueses, hoje arvorados em administrativos e burocratas, nunca fizeram uma greve contra a monstruosa papelada que o ministério despeja diariamente nas escolas!
Pesquisando na Internet descobri que lá fora os professores não são sujeitos a pseudo avaliações, mais destinadas a dividir e a poupar dinheiro do que a avaliar seja o que for, da mesma forma que também não têm a vida carregada por burocracias e trabalho de secretaria.
No Verão passado tive a oportunidade de conversar com duas amigas estrangeiras, que nos seus países estão ligadas ao ensino. A Denise, que trabalha numa escola de Basileia, na Suíça, onde é secretária do director, ocupa-se em resolver os problemas dos alunos menos integrados ou indisciplinados, isto é, faz sozinha o que em Portugal fazem os muitos directores de turma: responsabiliza os pais e encarregados de educação e multa-os, se for necessário, pelo mau comportamento dos seus educandos e pela sua negligência em acompanhá-los no percurso escolar.
Aline, austríaca, é professora de Inglês e de Alemão numa escola em Linz. Quando lhe contei o fardo burocrático que pesa sobre os professores portugueses, as inúmeras reuniões de conselhos de turma, de conselhos de docentes, de departamentos, de articulações, etc., etc., que mais complicam do que resolvem, e as extensas actas que é preciso fazer para justificar a irrealidade, exclamou: mas vocês, portugueses, devem ser doidos!
Aos professores deste país, que se quer democrático, já não é permitido ensinar e os resultados, quaisquer que sejam, têm que ser sempre positivos e mediáticos, a fim de facilitar o objecto principal do governo (e pelos vistos também do Estado): as estatísticas.
José Rosa Sampaio
Edição Especial, n.º 26, de 11.07.2008
http://educar.wordpress.com/2008/08/28/a-escola-da-burocracia/

Sem comentários: