domingo, setembro 21, 2008

A Química é uma seca


Um artigo no Público de hoje, alerta para uma realidade escolar, que pode servir de exemplo daquilo que funciona mal no ensino; daquilo que o provoca e da dificuldade em resolver tal questão.
Essencialmente, diz que a disciplina de Química, no 12º ano das escolas secundárias, anda pelas ruas da amargura .
Há falta de alunos para essa disciplina, porque a mesma desde há alguns anos que é facultativa, opcional. Os alunos, consequentemente, devido à dificuldade inerente à disciplina, não a escolhem como matéria curricular. Para quê estragar médias altíssimas, de entrada num curso de Medicina, com estas secas, se há outras mais fáceis e de resultados garantidos?

O resultado desta opção, é o fecho de turmas onde se ensine a mesma disciplina e a crescente dificuldade em organizar essas turmas, perante a escassez de procura.

Com essa falta que aliás se estende a outras disciplinas como a Física, a Filosofia e o Latim, os cursos de Universidade, onde tais disciplinas se tornam imprescindíveis, ficam à míngua de qualidade, baixando drasticamente os standards de aproveitamento escolar e curricular.
O facilitismo da escolha dos alunos no Secundário, provoca necessariamente uma baixa acentuada na qualidade do Superior.

Como se chegou aqui, a este Estado de coisas?

No que respeita à disciplina de Química, a responsabilidade directa, vem já do tempo de David Justino, como ministro da Educação de Durão Barroso.

Numa apresentação pública em Viana do Castelo, nessa altura, alguém de uma audiência de professores de Física e Química, levantou a questão perante o ministro de então, frisando e prevendo o erro grave que consistia em tornar opcional, para o secundário, uma disciplina essencial no Superior.
Resposta do ministro David Justino: os alunos no Secundário sabem perfeitamente escolher as opções escolares que mais lhes convém. Nada havia a temer,como agora os factos demonstram...

Raciocínio típico de um voluntarismo que o tempo veio demonstrar como profundamente errado e prejudicial para a qualidade de ensino.

David Justino, um ministro da Educação, com ideias válidas para o ensino, deixou-se apanhar numa armadilha do tempo e das opções típicas de uma sociologia que orienta políticas educativas há longos anos no nosso país: a da facilidade que consiste em reduzir dificuldades actuais, dos alunos, sem prever aquelas que logo à frente surgirão, fatalmente, no Superior.

Mais grave ainda: provocando, por arrastamento, no patamar Superior, a não exigência dessas disciplinas essenciais ao conhecimento, na candidatura aos cursos de Ciências, Engenharia e Medicina, replicando novamente a facilidade.

Pior ainda: os poucos alunos que no Secundário, escolhem voluntariamente essas disciplinas difíceis, nem são apoiados, porque as escolas Secundárias nem permitam que se abram turmas para eles, se o número de candidatos ao sacrifício e à seca, não for o suficiente. Economicamente, não compensa...

Será que David Justino, actual assessor presidencial, tem consciência dos prejuízos que isto provoca para a sociedade portuguesa, nos anos que já passaram e nos que virão a seguir?
E quantos erros destes, se terão cometido, tão claros e evidentes que até dói, ao ver os resultados?

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