A cadeia de televisão suíça TSR revelou em 7 de Setembro um novo caso de espionagem e de infiltração conduzido pelo departamento da empresa Securitas, Investigation Services (IS), dentro de um grupo anti-repressão (GAR) no cantão de Vaud. Um novo caso, que, tal como o do Nestlégate (**), mantém importantes e inquietantes zonas de sombra: é de admitir que a infiltração em grupos de cidadãos, considerados como críticos, é uma prática corrente por parte da maior empresa de segurança da Suíça.
Os factos: uma nova toupeira muito assídua!
O alvo desta nova espionagem é o GAR de Lausana, grupo composto por uma dúzia de pessoas. Desde há anos, ele analisa as questões respeitantes à repressão policial, informa dos seus direitos os participantes nas manifestações de rua, recolhe testemunhos de pessoas que sofreram actos de repressão e aconselha-as em caso de interpelação, de detenção, de inquérito ou de convocatória para testemunhar. Entre 2003 e 2005, foi infiltrado por uma toupeira da Securitas que operava, tal como no grupo da ATTAC de Vaud, sob falsa identidade. O seu nome de código era “Shanti Muller”. “Shanti” participou activamente nas reuniões do GAR não abertas ao público durante vários anos. Nesta condição, teve acesso, por exemplo, a centenas de testemunhos de vítimas de repressão policial bem como a dados na maior parte muito confidenciais e sensíveis. Chegou mesmo a ter a seu cargo as contas do grupo… Durante o seu período de infiltração, “Shanti” fez papel de boa companheira, dirigindo-se a casa de numerosos(as) militantes, oferecia presentes e falava muito dos seus cães de combate e duma actividade humanitária que levou a cabo na Índia. Mas quando não é “Shanti” ela é Fanny Decreuze, empregada da Securitas, primeiro nos guardas armados, depois na IS, que terá dirigido enquanto estava infiltrada no GAR. Hoje, Decreuze continua a trabalhar na Securitas, viaja bastante e acessoriamente é uma “boa” militante da UDC (União Democrática do Centro, extrema-direita) do distrito de Nyon, segundo o seu presidente, Gabriel Poncet. Por conta de quem é que ela se infiltrou no GAR? O(s) mandatário(s) da sua missão não são ainda conhecidos, mas há rumores de que o mandatário seria de novo a Nestlé como no caso da espionagem sobre a ATTAC.
A espionagem e a infiltração: uma prestação corrente da Securitas?
Esta nova revelação confirma que a vigilância feita à ATTAC não era uma missão isolada da Securitas, contrariamente às afirmações desta após a revelação do caso Nestlégate. Aliás, segundo o GAR, “Shanti” não se limitou a infiltrar o grupo de Lausana. Ela tomou parte não só em reuniões nacionais em Berna mas também nas manifestações contra o Fórum Económico Mundial em Lausana, e numa manifestação pela protecção dos animais.
Esteve activa em manifestações de grupos sanitários, ligou-se a alguns squats, participava em festas e refeições. Em Genebra, tomou parte no fórum social de Léman (FSL). Em suma, ela furava por todo o lado! À parte os casos da Nestlégate e do GAR com as suas duas toupeiras, é muito provável que a vigilância política seja uma prática corrente e faça parte duma gama de prestações “oferecidas” pela Securitas, nomeadamente infiltrar-se em grupos associativos e/ou políticos a mando de terceiros. O programa da TSR adiantou que várias toupeiras estariam ainda ao serviço da Securitas… O GAR, tal como a ATTAC, decidiu fazer queixa judicial.
Uma polícia cúmplice?
Da uma outra emissão em 12 de Junho de 2008 ressaltava que a polícia cantonal estava ao corrente da infiltração do grupo dos autores do livro “ATTAC contra a Nestlé”. Uma realidade reprovada pela federação dos funcionários de polícia que considerava “inconcebível que a polícia de Vaud, que estava ao corrente das investigações da Securitas, não só não tenha tomado nenhuma medida contra, mas ainda tenha colaborado com os responsáveis dessa empresa”. No caso da infiltração no GAR, a polícia de Lausana admite ter recebido informações “sobre esse meio”, mas de maneira espontânea…
É absolutamente escandaloso que responsáveis da polícia, seja comunal, cantonal ou federal, tenham estado ao corrente – informalmente ou não – de missões de espionagem por parte de uma empresa de segurança privada e não tenham achado necessário informar as pessoas visadas, como dispõe a lei sobre a protecção de dados (LPD). Continua a aguardar-se o resultado do inquérito “independente”, conduzido dentro da polícia cantonal de Vaud, fazendo-se votos de que o seu carácter independente não se limite ao nome.
É urgente e necessário pôr tudo a claro
Ontem a ATTAC, hoje o GAR – e amanhã? Um sindicato, um partido político, um(a) jornalista? Que outros grupos e/ou indivíduos foram espiados? Com que métodos? Que informações foram recolhidas e por onde circularam? Com que consequências? Quem são os mandatários de tais missões? Quem são os responsáveis dessas missões? A polícia estava a par dessas práticas? Se sim, limitava-se a deixar andar? Trata-se de mais um caso de privatização de tarefas de espionagem?
Questões para já sem resposta. É urgente e necessário pôr tudo a claro acerca dos métodos de espionagem de que foram vítimas a ATTAC e o GAR, mas igualmente acerca da extensão de tais práticas. Um sistema mais vasto, que organizaria uma vigilância de grupos de cidadãos, de associações, de movimentos ou de partidos, levada a cabo por empresas privadas a mando de terceiros, com a complacência da polícia – deve ser desmascarado e desmantelado. Trata-se de uma forma de gangrena que corrói o exercício dos nossos direitos democráticos.
http://www.jornalmudardevida.net/?p=1197
Sem comentários:
Enviar um comentário