A Academia Sueca, instituição que atribui o Prémio Nobel da Literatura, tenta identificar o homem que assaltou recentemente a casa de Miguel Sousa Tavares, levando um computador com trabalhos inéditos. A Academia pretende galardoar com um Nobel extraordinário os esforços para evitar a publicação de mais um best-seller automático de parco mérito artístico, que os portugueses comprarão de forma compulsiva como compram qualquer livro escrito por pessoas que apareçam na televisão. Entre as obras inacabadas contidas no computador roubado, merece destaque o novo romance do autor, um volume espesso sobre desventuras familiares/políticas/amorosas em antigas colónias portuguesas e também uma colectânea de poemas inspirados por ressacas de whisky caro. Alheio à simpatia para com o assaltante, Sousa Tavares continua a estranhar o facto de o ladrão ter levado apenas o computador, não negando a possibilidade de conspiração internacional movida por instâncias avessas à literatura de merda. Ainda assim, vai apelando ao assaltante para lhe devolver o computador, convidando-o a escolher o que quiser do recheio da casa, referindo-se à garagem contendo apenas caixas de fruta vazias e um televisor a preto e branco para onde se mudou nos últimos dias por motivos de Feng Shui. Confrontado com a possível ingenuidade informática revelada pela ausência de cópias de segurança de documentos importantes, o autor refere ter adquirido uma “pen”, faltando-lhe ultrapassar alguns problemas de configuração. Ao que a Inépcia apurou, a “pen” em questão é uma esferográfica Bic de cor azul.
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